A alcova de Loretti

Agora o quarto jaz sozinho, somente ela, jovem e atraente, de uma pele alva mas que esconde hematomas de uma vida difícil. Veste as roupas, após ser usada; retoca a maquiajem e por um estante começa a pensar nos seus poucos e pobres momentos de infância(quando foram felizes)...quase não teve infância, teve uma meninece muito cedo arrancada. Como se tivessem roubado seu espírito de dentro do corpo e o tivesse desfragmentado e espalhado por ai. 14 anos foi a época que um homem lhe prometeu amor fiel. Como pôde acreditar?... Ele a obrigou a entrar nesta vida.... como era ignorante se pudesse voltava...mas já não tem forças...

Já está arrumada, está muito bela, mas se sente triste, um tristeza profunda que toma conta até daqueles que olharem para dentro de seus olhos. Quando... - Loretti, o que está fazendo ai parada que não vai atender aos clientes? – pergunta uma mulher de beleza superior, bem mais bem vestida, portando jóias e ostentando um ar arrogante e desdenhoso.

- vou já, Srª Jannete Beau. E então se retira do quarto aonde estava deixando as suas poucas lembranças e lapsos de pensamentos(não se costuma muito pensar) e dirige se à sala de festa. Festa esta, bem ajitada. Lotada de mulheres e homens de posses, beberrões, sexistas e sedentos por luxúria. Mas o que mais existe lá são homens cafajestes, destes exploradores, doentes por bater e drogados.

- e aê! Quanto você já faturou, Loretti? – um homem baixo e mas bem vestido pergunta. – não muito, não é uma boa noite. Responde Loretti. O homem a fita com um olhar de malícia e deboche com uma vontade danada de lhe bater. Quem era ele? Ele, seu próprio marido, o tal que um dia lhe prometera amor, carinho e proteção, uma vida digna de rainha. Que a privou da inocência, e a atirou neste lugar. – não vem com esta de noite ruim não, se você estiver me enganando eu te quebro toda, me dá o que já tem, que tenho que sair. Fala o homem com ar severo.

Loretti, então entrega 125 reais. Um preço inferior à sua vida. Sua vontade é de chorar, mas já não tem lágrimas pelo menos não pra´gorinha. Talvez, quando chegar em casa na hora em que o marido chegar bêbado querendo surra-la, um grande prazer para seu sujo ego. Como em um pais livre com o Brasil, existem mulheres que sofre como ela? Medo,... falta de justiça, que palavra mais utópica esta...

Então de chofre...um velho deste quase em decomposição, se aproxima de Loretti, e a abraça por trás. É o velho Francisco Fradmed, um deste velhos ministros de Brasília, que ganhando bem, e perto da cova, gasta bem o seu gordo ordenário em putas.

Direto da “Toca das Gatas”(bordel de samambaia). Eles vão para um deste motéis pomposos da W3 sul. Lá pelos arredores do governo. Lugar não menos impróprio para isto...

Ele pelo menos é um dos poucos que a trata bem, e não cheira tão mal como muitos dos que a tocam, inclusive chegam a não banhar e adoram drogá-la. Bem, só mesmo as drogas faz com que se doe tão bem para aquela vida de uso e abusos, um ótima máscara para sua cara pálida e cada vez mais sem vida, que se esconde atrás da vergonha..

O velho não é tão mal assim mesmo, é até bonzinho...Chega a dar bem mais do que lhe é pedido, parece até amá-la. Mas é um destes amores que andam aos montes por ai...

Muitas horas se passam, finalmente fim desta noite de trabalho e humilhações é hora de ir para casa, queria agora sonhar a pobre Loretti, se o marido bêbado e drogado não a surrar desta vez.

...De longe Genivaldo, fita uma bela mulher que passa e pensa: - meu Deus, se eu fosse capaz eu a levava pra mim... a mulher é a decadente mais ainda bela Loretti.

De Fraça, Jhonathan, do livro horas bizarras da vida. 21/11/2008. Publicado em Recantos das letras.

J F de Sá
Enviado por J F de Sá em 21/11/2008
Reeditado em 21/11/2008
Código do texto: T1295679
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