ORLANDO

Orlando, negro, trinta e oito anos de idade, natural de uma cidadezinha do interior de Minas. Casado, mulher,cinco filhos menores, vivem lá sabe Deus de quê.

Moram num barraco no morro do cemitério, ao lado de uma antena de telefone celular.

Há quase dois anos, Orlando encontra-se desempregado e à beira do desespero, do precipício, da lama, do infortúnio total, num calvário interminável.

Já tentou trabalhar como ajudante de pedreiro, garçon, comerciário, açougueiro, lavador de carros, não conseguiu emprego. Sua baixa escolaridade, semi-analfabeto, é motivo de seu desemprego.

Pensou em ir para o interior de São Paulo, cortar cana, mas o fato de deixar os cincos filhos com a mulher sozinha, levou-o a desistir da empreitada.

Andava por aí, cabisbaixo, em roupas surradas, sentindo-se como o homem mais deplorável da face da terra, a pedir um palito de cigarro a quem passa.

Numa manhã de sábado, naqueles botecos do mercado onde fervilham de gente a tomar cerveja e cachaça, conheceu Souza que o apresentou a Maurílio, maior traficante da região.

Maurílio fez uma proposta a Orlando que, imediatamente, aceitou-a e passou a entregar papelotes de cocaína e buchinhas de maconha, aos usuários esporádicos e viciados da cidade.

Agora, a família Orlando leva uma vida mais digna. Aos domingos vejo seus filhos a consumir algodão doce e coca-cola na praça Tiradentes, e a patroa a bebericar uns copinhos de cerveja.

E Orlando, outro cara, com roupas limpas e atuais, não se esquece de agradecer, diariamente, a este novo Deus onipresente: o tráfico de drogas!

CAIO DUARTE
Enviado por CAIO DUARTE em 19/11/2008
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