Lamento

Onde se guardam as mágoas o segredo do cadeado não existe. Quem disse que eu era um bom homem? Quem falou sobre minhas qualidades? Eu sou sincero sim, até demais. Quando se esconde a comida, prova-se a mediocridade, não sou eu que julgo, eu visito só as moradas carinhosas do seu egoísmo, que vez que outra me afagam o rosto.

Conheci mulheres cheirosas e vaidosas, algumas mentem sobre o que são, outras de tão verdadeiras viram mentira. Nos sábados eu vejo as crianças no parque sem saber por que eu estou lá, afinal de contas eu cresci e o azar é só meu. Quando os irmãos viram as costas e te olham de canto de olho, surge uma tempestade no céu lhe dizendo novamente pra não depender de ninguém, quem dá ? cobra, quem cede perde a vez. Eu sigo assim cedendo mas sei o jeito de me restabelecer.

Salvam-se algumas almas boas que vagam por aí, de tão ingênuas tornam-se belas, como um galho de árvore balançando na tarde ensolarada de novembro. Os cães, amigos eternos, giram em volta de seus próprios rabos me mostrando que não sou nada além de vento quente. Nos goles da cerveja gelada lembro das poesias libertinas da frança e me jogo na revolução dos meus sentimentos que me dizem o tempo todo que nasci na época errada.

Gosto dos carros e dos aviões, adoro o conforto, porém vivo muito bem sem eles. No meu travesseiro ficam os fios de idéias perfeitas que deixo toda noite em meus sonhos fantásticos e surreais, minha imaginação me surpreende, acho que sou louco.

Todos os dias, quando saio pro trabalho lembro que beatnicks não trabalham, mas eu sim, as dozes de morfina alcólica, eu só posso obter no fim do expediente, quando minha cabeça cansa e meu corpo bamboleia.

Um quarto pequeno pode se tornar um grande mundo, basta cria-lo, saudando os antigos, ouço o chorinho e os võlões reclamando, quando os bandolins entram em cena, tudo fica colorido, nesta hora a poesia se disfarça em notas musicais e eu fico quieto escutando tudo.