MUITO SIMPLES
Às vezes a vida parece tão complicada.
Enquanto as mãos trocam as rodas de carrinhos de brinquedo com as novinhas do irmão menor, balança as pernas que mal alcançam a calçada lateral de casa, a pensar nos problemas sem respostas. Um deles:
Mãe, por que chamam esse de “o quarto dos fundos”?
A pergunta escapou involuntária. No outro extremo, lá da cozinha a mãe gritou sem desviar o olhar da panela: Você já fez todas as tarefas de casa?
Satisfeito pelo trabalho bem sucedido, de novo os carrinhos deslizavam que era uma beleza.
É sempre assim, ela muda de assunto quando não sabe das coisas. O cheiro da cozinha despertou-o para a lembrança do irmão que logo voltaria da escolinha.
Um coro de assobios vindo da rua o fez esquecer todo o resto. Sacudiu de qualquer jeito a caixa de papelão embaixo do beliche e com astúcia felina arrastou a bicicleta até o portão, de onde escapuliu.
A brisa morna desalinhou-lhe os cabelos quando ganhou as ruas. Misturado à turma de pequenos ciclistas, pensou como a vida às vezes pode ser muito simples.
MCC Pazzola