A NOITE DA TEMPESTADE

Eu descia uma ampla escadaria do viaduto Castelo Branco.

Foi numa noite chuvosa e fria que tudo tranformou-se em agonia.

Rajadas de vento forte gelavam a minha alma.

O aguaceiro inundou ruas e avenidas.

Resolvi caminhar mais depressa ainda.

Encontrava-me todo molhado pelo temporal.

O forte vento derrubou uma arvore centenária.

A arvore caiu em cima de um toyota.

Um fio de alta tensão entrou em curto e se partiu.

Numa parte da cidade fez-se imediata escuridão.

Vi um cachorro sendo levado pela enxorrada.

Pingos da chuva quase me sufocaram.

A cidade inteira parecia um verdadeiro caos.

Um bueiro soltou longe a tampa e vasou agua fedorenta.

O fiat de um motorista bebado bateu em um poste.

Duas mulheres morreram ali naquela hora.

Ouvi no mesmo instante gritos de desespero de muita gente.

O aguaceiro arrebentou a marquise de um predio.

Passa o carro da policia perseguinto o de assaltantes.

Uma bala perdida mata imediatamente um homem idoso.

Nessa mesma hora um rapaz se viciava com o crack.

Ele tombou metralhado por traficantes.

Continuei minha jornada mais apressado do que antes.

Um mendigo se engasgou e teve fulminante enfarte.

O raio intenso atingiu um grande transformador.

Uma mulher linda dentro de uma camionete deu a luz seu filho.

Outra bala perdida espatifou uma vitrine inteira.

Um malandro velho roubou dela um colar de perolas.

Outro mendigo bebia indiferente a tudo sua pinga favorita.

Pessoas correram apressadas para pegar o onibus.

De repente a tempestade amainou.

No céu surgiu a lua em cor de prata.

A cidade se mostrava agora um verdadeiro caos.

Enfim entrei dentro de casa e fui assistir televisão.

O noticiário mostrava tudo o que havia acontecido em meu caminho.

Vi toda tragedia repertir de novo.

jclisboa.