A NOBRE MENDIGA

Eu a observo desde que vim morar aqui, há uns onze anos...

Transformou-se em mendiga aos poucos, como se a cada ano, suas vestes, cabelos e alma fossem se esgarçando, num rápido e implacável processo de corrosão...

Agradecia educadamente as esmolas que recebia, muitas em forma de roupas e alimentos, mas fazia questão de esclarecer que papéis, lápis e canetas coloridas também seriam bem-vindas...

Não costumava mostrar seus desenhos, ao contrário, guardava-os numa caixa de papelão que cobria com um plástico nos dias de chuva...Certa vez , ao entregar-lhe um caderno e alguns lápis de cera, pedi que me mostrasse seus desenhos. Relutante, mas acreditando que eu seria capaz de negar-lhe o presente, retirou da caixa algumas de suas obras... A beleza da sua arte me fez então entender o porquê da miséria não haver lhe roubado do olhar resquícios de nobreza...

Faz tempo que não a vejo... gostaria de saber quem é ela... em que ponto da trilha da vida aquela artista fora tragada...

Belinda Tiengo
Enviado por Belinda Tiengo em 11/11/2008
Reeditado em 23/11/2008
Código do texto: T1278263
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