RODA GIGANTE
Todo mundo queria andar na roda gigante. Era bom demais. Então quando ela parava com a cadeira lá em cima, dando aquele balanço, chega dava um frio na barriga. A noite estrelada com algumas nuvens ameaçando chuva que estavam se acumulando no nascente. Celinha com o vestido novo azul estava mais linda do que nunca. Antonio a viu passar com as colegas, várias vezes pelo banco da praça onde ele estava descansando da quase carreira que deu para chegar da casa dos pais, que ficava meio afastada, para o centro onde a festa de rua estava armada. O serviço de som tocava sem parar as musicas que estavam nas paradas de sucesso e eram dedicadas às pessoas por seus admiradores.
- Ei, Celinha, boa noite também se usa.
- Eu já dei boa noite, Neguinho. Você foi que não respondeu nem prestou atenção em mim.
- Nem diga isso. Você sabe que eu lhe acho a menina mais bonita dessa festa toda.
- Você só está dizendo isso agora para me agradar.
- É não, Celinha.
A essa altura os dois já estavam passeando pela calçada circular em torno da praça da igreja.
- Vamos andar na roda gigante?
- Vamos antes que mamãe me mande entrar.
Os dois foram para a fila, compraram os ingressos e ficaram esperando a vez. Cada bilhete dava direito a doze voltas na roda, sem contar com a da troca das pessoas. Cada vez que a roda parava para trocar as pessoas, Celinha com medo segurava na mão de Neguinho. Mão firme calejada pelo trabalho na roça e com o gado para ajudar ao pai como todos os outros irmãos faziam e pela lida com a sua criação de porcos, mas que ao contato com a mão fina e macia de Celinha, estava gelada e trêmula. Neguinho comprou quatro bilhetes. Eles girariam vinte e quatro vezes, mas a chuva foi anunciada pelo corte do fornecimento de energia. Talvez um raio muito longe dali. Eles ficaram lá em cima. Celinha não deixou que Antonio a beijasse, tinha gente demais olhando para cima. Podiam ver e contar para o pai. Se isso acontecesse, seria um mês sem por os pés fora de casa. A chuva engrossou de vez. Molhou tudo. Todos que estavam na roda gigante não tinham como se proteger. Os trabalhadores do parque foram girando a roda com a mão mesmo e liberando as pessoas. Quando desceram de mãos dadas, encontraram dona Beatriz, a mãe, com guarda chuva em punho para mandar a filha ir para casa trocar de roupa, antes que pegasse um resfriado.
Neguinho voltou para casa molhado e feliz.