Um Pequeno Olhar de Esperança.
Assim que embarcou no ônibus estudou todos os passageiros.Homens, mulheres,jovens,todos em direção a um destino.
Ao seu lado uma jovem estava com uma criança no colo, brincava com uma boneca de pano.Devia ter um ano,talvez um pouco mais, a mãe lhe falava palavras carinhosas e a menina ria.Ele costumava embarcar naquele mesmo ônibus duas vezes por semana e tinha planos para aquela viagem.Última parada para embarque e depois só tornariam a parar na rodoviária da cidade vizinha.Era neste trajeto que tentaria a sorte.Sentia-se cansado e ao mesmo tempo nervoso,ou seria medo?Olhou pela janela,sua vida tinha sido tão solitária,os amigos tinham se afastado desde que começara a se meter em encrencas.Mas era duro ter que sustentar a família e ao mesmo tempo ver que as coisas não iam bem.Já havia sido preso duas vezes por pequenos roubos,mas aquele seria diferente.Já tinha tudo planejado,nada daria errado e se todos colaborassem não teria problemas.A arma estava no bolso de sua grossa jaqueta de brim,tinha conseguido com "um amigo".De repente sentiu um puxão no seu braço,voltou-se assustado e percebeu que era a menina que lhe sorria apontando para o chão.Seguiu seu olhar e viu a boneca caída entre seus pés.Baixou e lhe entregou o brinquedo ,ela o agarrou com as pequenas mãozinhas e continuou com aquele sorriso inocente,feliz por ter sido atendida, enquanto a jovem mãe o agradecia.Naquele momento, olhando para aquela pequena criança inocente, tão sorridente e cheia de energia sentiu um medo tomar conta do seu corpo.Passou em sua mente a imagem de sua filha que já era maior,mas ainda dependia dele para sobreviver.Ela não tinha uma mãe,ele era seu único refúgio,sua única proteção.A boneca de pano tornou a cair e ele novamente juntou e a entregou para aquela criatura linda e cheia de vida.Colocou a mão mais uma na arma e apertou-a contra seu corpo.Uma cena lhe passou pela mente.Podia dar errado,o suor lhe escorria frio pelo rosto.O ônibus parou na rodoviária e ele desceu seguindo com o olhar a mãe e a criança se afastando.Por um momento sentiu-se feliz e grato por aquela criança ter mudado seus planos.O seu pequeno olhar o fez perceber que não valia a pena arriscar a sua vida e daquelas pessoas que nada tinham a ver com seus problemas pessoais.Voltou para casa e abraçou a filha de cinco anos com lágrimas nos olhos.