É estranho e complexo o amor. A gente pensa mesmo que tem domínio sobre o que sente e quando menos nos damos conta, nos encontramos a mercê de sentimentos de entrega que absorvem toda e qualquer razão.

Foi isso que lhe aconteceu... Com o tempo, ela foi descobrindo que o amor que tinha não era suficiente para os dois e que apesar de admirá-la e amá-la, aquele homem jamais deixaria a vida que escolheu, para caminhar ao lado de alguém. Ela certamente, não abdicaria de seus ideais para viver um amor que não lhe traduzia segurança.

Queria estudar, trabalhar, gostava de dançar sair e tinha uma postura definida em relação á fidelidade. Fugia dos padrões almejados por ele, que certamente preferia alguém que o aceitasse integralmente... bebidas, mulheres, traições.

Entre idas e vindas, eles caminhariam juntos por um longo tempo.

Ela se via dominada pelo sentimento que nutria e ele por sua vez, continuou levando a vida da forma que acreditava. A verdade é que quando se encontravam se procuravam e acabavam juntos, naquele momento realmente, só existiam os dois.

Mesmo nas inúmeras conversas, carinhos e afetos que trocavam, nunca foram claros quanto aos sentimentos que nutriam. Ela nunca teve dúvida do amor que sentia e via nos olhos dele tudo o que precisava. Ele a amava, mas do que pressupunha, mas também nunca assumira esse amor.

Certa noite quando estavam juntos... ele lhe contou uma história que delimitaria bem seu lugar na vida dele: “Havia um homem que precisava de algumas manilhas e que as comprou. Na entrega as deixaram na beira da estrada, todos os dias ele passava e dizia pra si mesmo que deveria levá-las, porque poderiam ser roubadas. Assim, passaram-se vários dias sem que o homem as levasse para o local adequado. Até que um dia, ele percebeu que uma delas estava faltando. Desceu do carro para carregar as outras, pensando ter sido roubado. Mas, qual não foi sua surpresa ao perceber que a manilha havia rolado pela ribanceira e que estava oculta entre árvores e arbustos. Sem nenhuma dúvida em relação ao que faria, empurrou as outras três, sabendo que assim estariam ocultas para serem usadas quando ele desejasse.”

Ela ouviu com atenção toda a história e entendeu que era necessária, mas que continuaria a ficar guardada, oculta... Até que ele, dela precisasse. Ela o amava o suficiente para saber disso e continuar acreditando nesse amor.

É isso, às vezes, transformamos pessoas em objetos de uso pessoal e nos esquecemos que, mesmo guardadas, elas ainda podem voar... alguém pode lhes ajudar a fortalecer as asas e, se isso acontecer, elas nos serão”roubadas” e, provavelmente, jamais voltarão.

Ela nunca lhe disse o quanto isso a incomodara, nem se queixava quando ele sumia, era incondicional o amor que sentia. Percebia nele, dúvidas, infelicidade e tentou ajudá-lo. Quando mais o ajudava, mais o amava e, seus olhos foram se fechando aos defeitos e atitudes que a incomodavam. Ela acreditava que ele seria seu único amor, sonhava em ter filhos com esse homem, embora soubesse que o mesmo nunca a assumiria como sua mulher. Era sonhadora e apostou todas as fichas nesse amor. Já não era tão prazeroso amar, esquecera-se do princípio do amor e, fazia planos de se entregar integralmente.

Não importava o quanto eram diferentes, ela o amava mais que a si mesmo.