UM GRANDE AMIGO
O escritório de Pascoal Gomes e um dos pontos de compra de matéria-prima de sua algodoaria ficavam, exatamente, na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a travessa 15 de Novembro; por conseguinte, Pascoal, por uma das ruas era vizinho de Hildebrando e pela outra, era meu vizinho. Ele era um homem rico; comprava e pagava à vista. Numa sexta-feira, porém, depois de encerrado o expediente bancário, seu dinheiro de pagar aos fornecedores acabou.
- João Eu, você tem cento e cinqüenta mil cruzeiros em dinheiro, aí? Tem que ser em moeda viva. Segunda-feira cedinho, mando retirar no banco e levar pra você.
Éramos amigos há alguns anos e era a primeira vez que me telefonava pedindo um favor.
-Tenho sim. Vou mandar Adalberto levar aí. Vou só dar uma arrumada no dinheiro.
Que nada! Era muito dinheiro, e eu não tinha nem a metade. Enquanto o menino foi pegar aquela quantia com Hildebrando, Pascoal telefonou-me novamente. Não sei se por estar demorando ou por se tratar de muito dinheiro...
- Você tem mesmo o dinheiro em caixa?
- Tenho, sim. Chega aí daqui a pouco.
Ele deve ter visto meu portador saindo de Hildebrando com um pacote enorme de dinheiro. Juntei ao pouco que tinha e mandei entregar a Seu Pascoal. A partir daquele momento, nosso relacionamento, até sua morte, foi de pai e filho. Ele era um pouco mais velho. E deve ter pensado: “Um amigo que toma dinheiro emprestado para emprestar a outro não é apenas mais um amigo!”
LIMA, Adalberto;SILVA, Fracisco de Assis Lima. Fagulhas e Lampejos.