AMOR EM EUROPA

I - A partida

Estavam demasiado apaixonados, e isto era evidente. A maneira de se mirar, as mãos dadas, bem apertadas, os beijos fervorosos e longos, tudo evidenciava.

Já há muito ele havia prometido levá-la à Europa, ela amiúde cobrava.

- Você não me ama, Leonardo! - Reclamava ela muito triste.

- Mas de onde tirou essa idéia, Tamara? É óbvio que eu amo você; não há dúvida - e beijava-a na fronte, carinhosamente.

- Então vamos - dizia muito rogativa. - Então vamos embora para Europa.

- Meu amor, eu sei que você quer muito ir a Europa, e - olhe - eu vou levá-la aonde quiser - até se quiser ir a Austrália, eu levo você. Mas, por favor, tenha paciência. Eu preciso... preciso pensar e... preparar as coisas.

Porém ela não se conformava. Queria pois queria ir embora, sumir-se do Brasil. O motivo era urgente, e ele o conhecia.

- O motivo é que você ainda ama...

- Nada disso! Não termine essa frase. Eu não... por favor, Tamara, tenha calma. Deixe-me pensar.

- Pensar para quê? O que há para pensar, Leonardo?

Finalmente, dois anos após o casamento, ele, com muita dor no coração, decidiu-se em atender às ânsias de sua amada, e partiu para Espanha. A decisão foi a mais difícil de sua vida, até o momento. Mas, por amor, preferiu sucumbir aos desejos da mulher, e eles foram.

II - Sete meses

Foi dura a decisão. Entrementes, após muita reflexão e decidir-se, sentia-se melhor. A mente, dia atrás dia, mês após mesmo, foi esfriando. E dois meses depois, não sentia-se infeliz. Estava muito contente, na maior felicidade de sua vida. Sentia que, longe do Brasil, estava mais seguro e podia fazer o que quisesse. Dizia-se o homem mais feliz do mundo.

Ela, entanto, sentia-se muito mais contente que ele, e isso era notável. Ele, no início, não lograva entender sia completa falta de preocupação. Ainda que se sentisse muito feliz, às vezes, parava e pensava, e aí se sentia a pior raça de homem do mundo. Mas ela amiúde estava ali, e, com ela, a tristeza cedia a um sentimento de orgulho, de completa alegria. E, assim, passaram-se sete meses.

III- Sete meses depois

Madrid, Puerta del Sol: Espanha, Europa. Museus, 'besugos a la manera española', fotos, sorvetes. Gozavam de tudo. Estavam mais que felizes, e essa felicidade contagiava. O primeiro amor? Saberá! O que sabe-se é que se sentiam muito felizes, e usufruíam de muito amor.

As viagens foram muitas: Inglaterra, Portugal, Alemanha, etc. Durante sete meses poderiam rodar o mundo. Conheceram lugares distintos, e, a cada viagem, a cada cidade, a cada país, tornavam-se mais apaixonados.

Entrementes, ao cabo de sete meses completos, o casal de 'palomas' apaixonadas tornou-se um só homem frustrado.

Ele notou cedo o seu comportamento. Estava muito diferente. Parecia que o amor esfriava. Ela já não era a mesma, ainda que intentasse. Mas ele não dizia nada. Não entendia, porém, o que acontecia. Estaria ela arrependida?

Uma noite, vendo que devia fazer alguma coisa, perguntou-lhe se queria voltar a Rio de Janeiro.

- Por que pergunta isso? Você quer? Quer voltar a Rio?

- Não. É que... não sei - e a conversação acabou-se.

Ela parecia também senti-lo estranho agora. E as coisa ficaram dia atrás dia mais difícil.

Então, o inesperado aconteceu.

- Mas por quê? - perguntava ele, entre lágrimas. - Por favor, me diga. Por favor, Tamara, não me deixe; eu amo você.

Mas ela nada dizia. Não qeuria feri-lo, e calava-se. O silêncio, porém, era o que feria-lhe mais, muito.

- Não, Tamara, por favor!

Ela sentia-se impotente. Suas mãos pareciam algemadas.

- Pare, por favor, Tamara! Tamara! Tamara, volte! Volte! - e desmanchava-se em pranto.

Durante dois meses ligava para o seu celular. Não obtinha respostas. Até que o telefone não chamou mais.

"Este teléfono no más existe. Por favor, consulte el catálogo de teléfono. Gracias."

Perdeu o contato com ela, de vez. Ele não sabia mais que fazer. Começou sentir-se perturbado. Buscava ela no sonhos e não a encontrava. Buscava ela nos transeuntes, e não a via. Buscava-a nas nuvens: nada.

A decisão - esta sim - foi a mais difícil, mas ele sentia-se sem saída. Sua vida estava integralmente destruída, e não queria mais voltar ao Brasil. Sentia-se inútil, e sua vida estava sem saída.

IV - A notícia

A notícia chegou na manhã seguinte, a um casarão em Rio de Janeiro, pelo televisor.

- D. Helena, corra! - clamava a criada. - Venha só ver. A senhora não vai acreditar.

Ao chegar correndo à sala, ela apenas pôde ouvir o restante da notícia, sobre o esposo.

"...que fugiu com o amante, a irmã da esposa. O corpo foi encontrado hoje pela manhã num apartamento em Madrid, Espanha, enforcado."

Luiz Carlos Martins B Bueno Dantas de Oliveira
Enviado por Luiz Carlos Martins B Bueno Dantas de Oliveira em 03/11/2008
Código do texto: T1263234
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