O Tesouro.
O Tesouro
Afonso sempre fora pescador toda a sua vida.
Aos 52 anos, dos quais 40 se dedicara a pesca, tirava o sustento de sua família.
Sua casa era pequena e de taipa, com o teto de palha próximo ao mar. Uma pequena sala sem moveis, apenas 5 banquinhos de madeira, dois quartos com redes, uma apertada cozinha com um fogão a lenha de duas bocas e nos fundos um alpendre com uma mesa de madeira já bastante envelhecida, onde a esposa preparava as refeições.
Tinha três filhos. Todos eles homens, mas apenas os dois mais novos moravam com ele. O mais velho foi estudar e morar na cidade com o tio.
Nestes últimos cinco dias, não conseguira pegar nenhum peixe. O vento estava bastante forte e o mar estava muito revolto.
O pouco de alimento que restava, mal daria para passar este dia.
Estava impaciente e angustiado com a perspectiva de ser mais um dia sem peixes e assim, não teria alimentos para o sustento da família.
A cinco da manhã levantou-se.
Chamou os filhos e sem quebrarem o jejum, saíram em direção à praia levando sua velha tarrafa e uma faca presa a cintura. Somente levava os filhos para pescar arenques que serviriam de iscas. Nunca os tinha levado de canoa para as pescarias.
- Não quero vocês se tornem pescadores que nem eu – respondia aos filhos quando estes pediam para acompanhá-lo.
Ao chegarem à praia, Afonso entrou no mar até a cintura e lançou sua tarrafa nas águas em busca das almejadas iscas.
Nada.
Não havia um único arenque nas malhas da tarrafa. Arremessou novamente, outras vezes mais e mais.
Não conseguia pegar um só peixinho que servisse de isca.
O sol já se mostrava alto e ele continuava ali, sempre tentando, com os braços doloridos e sentindo suas forças esvaísse.
- Pai! Deixa pra lá. A gente come mesmo coco e rapadura – da praia, gritou um dos filhos.
Depois de mais algumas lançadas de tarrafa no mar, Afonso desistiu.
- Com tanto vento, a mar fica muito bravo e espanta os peixes – comentou triste.
Retornaram pra casa com o coração cheio de tristeza em silêncio.
À noite, sentado no chão na frente de sua casa ficou pensativo. Imaginava porque sua vida fora sempre tão penosa. Sentia as vezes que parecia um castigo.
Não percebeu que o amigo Thiago, pescador que sempre lhe fazia companhia nas pescarias, acabara de chegar e se aproximara dele.
Vendo que Afonso estava triste, falo:
- Fica triste não homem. Vai ver que este vento passa e os peixes voltam.
- Boa noite, amigo. Tava aqui entretido com meus pensamentos, que nem vi você chegar. Espero mesmo que esta maré de má sorte termine.
- Num ta sentindo que o vento agora a noite já está mais fraco.
Era verdade. Nem havia percebido a mudança. O vento já não se mostrava tão forte.
Eles conversaram até tarde da noite sobre seus problemas e sonhos. O sonho de Afonso era ter um barco maior. Daqueles com porão refrigerado. Assim poderia passar mais dias em alto mar e ganhar mais dinheiro. Thiago sempre sonhou em ter uma oficina. Gostava de mecânica e achava que sabia o bastante pra montar uma. Passaram bom tempo conservando até tarde da noite.
Depois que Thiago saiu, Afonso olhou as estrelas brilhando no céu e falou:
- Mau Pai do Céu. Se minha sina nesta vida é ser pescador, num vou reclamar. Aceito de bom grado esta vida atribulada. Mas bem que podias melhorar meu ganho pra eu ter uma casa melhor, um barco de pesca e não esta tapera como morada e uma canoa que já ta toda remendada. Sei que podes me fazer este agrado, pois sempre honrei Teu Nome e nunca Te faltei.
No dia seguinte, quando acordou, notou que o vento estava brando.
Alegrou-se e em seguida pegou sua tarrafa saindo sem acordar os filhos. Não queria que eles ficassem sentindo fome na beira da praia e debaixo do sol quente.
Quando chegou à praia, viu um garoto que andava em sua direção carregando um saco. Notou que ele trazia alguma coisa dentro do saco e resolveu perguntar:
- Menino, que tu trás neste saco?
- Ostras – respondeu o garoto com naturalidade.
- Onde tu as pegaste?
- Lá nas pedras – apontou com o dedo as pedras que ficavam mais adiante.
- Não sabia que naquelas pedras tinha ostras.
- Tinha não. Mas hoje tem.
- E tu ganhas bom sustento com ostras? – Quis saber mostrando interesse.
- Acho que com estas aqui qualquer um pode ter o bastante.
O garoto abriu o saco e deu uma ostra para Afonso e disse:
- Abra esta.
Afonso pegou a ostra e ficou a examiná-la. Quando ia abri-la, ouviu alguém chamá-lo.
- Homem... Deixa de prosa com este menino e vem comigo que tem um cardume de arenque enorme beirando a praia.
Afonso jogou a ostra no chão e saiu correndo ao encontro do amigo. Nem reparou que a ostra ao cair de suas mãos havia batido numa pedra e de dentro dela uma linda perola rolou na areia.
O garoto abaixou-se junto à ostra e recolheu a perola. Olhou em direção a Afonso e disse:
- Eu ia justamente te dizer que não precisavas mais viver como pescador, porque de onde veio esta, deixei centenas delas nas pedras.
Moral:
Muitas vezes queremos muito alguma ajuda, e quando ela nos é chega, só porque não aparece aos nossos olhos de forma agradável, ignoramos que ali esteja o que tanto queríamos e desprezamos o que nos foi presenteado, e assim perdemos a oportunidade de realizarmos nossos desejos. Não sabemos ver que na maioria das vezes, os mais belos tesouros estão guardados nos lugares que damos menos valor. Assim também são com as pessoas. Olhamos apenas o que está por fora e nunca nos preocupamos de olhar por dentro delas.
O Tesouro
Afonso sempre fora pescador toda a sua vida.
Aos 52 anos, dos quais 40 se dedicara a pesca, tirava o sustento de sua família.
Sua casa era pequena e de taipa, com o teto de palha próximo ao mar. Uma pequena sala sem moveis, apenas 5 banquinhos de madeira, dois quartos com redes, uma apertada cozinha com um fogão a lenha de duas bocas e nos fundos um alpendre com uma mesa de madeira já bastante envelhecida, onde a esposa preparava as refeições.
Tinha três filhos. Todos eles homens, mas apenas os dois mais novos moravam com ele. O mais velho foi estudar e morar na cidade com o tio.
Nestes últimos cinco dias, não conseguira pegar nenhum peixe. O vento estava bastante forte e o mar estava muito revolto.
O pouco de alimento que restava, mal daria para passar este dia.
Estava impaciente e angustiado com a perspectiva de ser mais um dia sem peixes e assim, não teria alimentos para o sustento da família.
A cinco da manhã levantou-se.
Chamou os filhos e sem quebrarem o jejum, saíram em direção à praia levando sua velha tarrafa e uma faca presa a cintura. Somente levava os filhos para pescar arenques que serviriam de iscas. Nunca os tinha levado de canoa para as pescarias.
- Não quero vocês se tornem pescadores que nem eu – respondia aos filhos quando estes pediam para acompanhá-lo.
Ao chegarem à praia, Afonso entrou no mar até a cintura e lançou sua tarrafa nas águas em busca das almejadas iscas.
Nada.
Não havia um único arenque nas malhas da tarrafa. Arremessou novamente, outras vezes mais e mais.
Não conseguia pegar um só peixinho que servisse de isca.
O sol já se mostrava alto e ele continuava ali, sempre tentando, com os braços doloridos e sentindo suas forças esvaísse.
- Pai! Deixa pra lá. A gente come mesmo coco e rapadura – da praia, gritou um dos filhos.
Depois de mais algumas lançadas de tarrafa no mar, Afonso desistiu.
- Com tanto vento, a mar fica muito bravo e espanta os peixes – comentou triste.
Retornaram pra casa com o coração cheio de tristeza em silêncio.
À noite, sentado no chão na frente de sua casa ficou pensativo. Imaginava porque sua vida fora sempre tão penosa. Sentia as vezes que parecia um castigo.
Não percebeu que o amigo Thiago, pescador que sempre lhe fazia companhia nas pescarias, acabara de chegar e se aproximara dele.
Vendo que Afonso estava triste, falo:
- Fica triste não homem. Vai ver que este vento passa e os peixes voltam.
- Boa noite, amigo. Tava aqui entretido com meus pensamentos, que nem vi você chegar. Espero mesmo que esta maré de má sorte termine.
- Num ta sentindo que o vento agora a noite já está mais fraco.
Era verdade. Nem havia percebido a mudança. O vento já não se mostrava tão forte.
Eles conversaram até tarde da noite sobre seus problemas e sonhos. O sonho de Afonso era ter um barco maior. Daqueles com porão refrigerado. Assim poderia passar mais dias em alto mar e ganhar mais dinheiro. Thiago sempre sonhou em ter uma oficina. Gostava de mecânica e achava que sabia o bastante pra montar uma. Passaram bom tempo conservando até tarde da noite.
Depois que Thiago saiu, Afonso olhou as estrelas brilhando no céu e falou:
- Mau Pai do Céu. Se minha sina nesta vida é ser pescador, num vou reclamar. Aceito de bom grado esta vida atribulada. Mas bem que podias melhorar meu ganho pra eu ter uma casa melhor, um barco de pesca e não esta tapera como morada e uma canoa que já ta toda remendada. Sei que podes me fazer este agrado, pois sempre honrei Teu Nome e nunca Te faltei.
No dia seguinte, quando acordou, notou que o vento estava brando.
Alegrou-se e em seguida pegou sua tarrafa saindo sem acordar os filhos. Não queria que eles ficassem sentindo fome na beira da praia e debaixo do sol quente.
Quando chegou à praia, viu um garoto que andava em sua direção carregando um saco. Notou que ele trazia alguma coisa dentro do saco e resolveu perguntar:
- Menino, que tu trás neste saco?
- Ostras – respondeu o garoto com naturalidade.
- Onde tu as pegaste?
- Lá nas pedras – apontou com o dedo as pedras que ficavam mais adiante.
- Não sabia que naquelas pedras tinha ostras.
- Tinha não. Mas hoje tem.
- E tu ganhas bom sustento com ostras? – Quis saber mostrando interesse.
- Acho que com estas aqui qualquer um pode ter o bastante.
O garoto abriu o saco e deu uma ostra para Afonso e disse:
- Abra esta.
Afonso pegou a ostra e ficou a examiná-la. Quando ia abri-la, ouviu alguém chamá-lo.
- Homem... Deixa de prosa com este menino e vem comigo que tem um cardume de arenque enorme beirando a praia.
Afonso jogou a ostra no chão e saiu correndo ao encontro do amigo. Nem reparou que a ostra ao cair de suas mãos havia batido numa pedra e de dentro dela uma linda perola rolou na areia.
O garoto abaixou-se junto à ostra e recolheu a perola. Olhou em direção a Afonso e disse:
- Eu ia justamente te dizer que não precisavas mais viver como pescador, porque de onde veio esta, deixei centenas delas nas pedras.
Moral:
Muitas vezes queremos muito alguma ajuda, e quando ela nos é chega, só porque não aparece aos nossos olhos de forma agradável, ignoramos que ali esteja o que tanto queríamos e desprezamos o que nos foi presenteado, e assim perdemos a oportunidade de realizarmos nossos desejos. Não sabemos ver que na maioria das vezes, os mais belos tesouros estão guardados nos lugares que damos menos valor. Assim também são com as pessoas. Olhamos apenas o que está por fora e nunca nos preocupamos de olhar por dentro delas.