VOLÚPIA

VOLÚPIA

VOLUPIA

É de um todo estranho descrever com tamanha volúpia, os sentimentos que explodem no peito por ela. E quando “ela” trata-se de sua mulher, torna-se “tua” esquece-se dela. As palavras aqui deitadas são frutos do amargor que tais seres nos doam.

Era fim de tarde, e eu reinava soberano deitado em seu sofá de chenile branco. A maciez deste tecido acariciava-me a face e abraçava-me o corpo. Não era difícil perder-me em pensamentos e cair em profundo sono. Mas ela estava ali. Não sobre sofá, mas estava ali. Entreabria meus olhos e a via, de avental azul debruçada sobre a pia. De quando em quando abria o armário pegava o pretendido, voltava a pia e cantarolava uma canção.

Eu me espreguiçava suave tentado chamar-lhe a atenção, mas não era preciso tamanho calculo. Ela espontaneamente vinha ao meu encontro, caminhando manso em seu ritmo. Olhava fundo em meus olhos, abria um sorriso no canto dos lábios e achegava-me com ternura. Eu correspondia levando minha face de encontro a sua mão. Ela prontamente acariciava-me sem receio, percorria sua mão delicada por todo meu corpo, e assim eu me ardia em brasa. Quando sua mão ganhava peso, ela tratava logo de se achegar ao meu ouvido e balbuciar algumas palavras. Confesso que naquele instante não discerni tal sussurro, mas hoje compreendo que tais palavras eram: “Eu te amo”.

Não há no mundo alguém que resista a um sussurro seguido de cafuné, e eu não era exceção. Joguei-me em seus braços, que me abraçaram maternalmente. Naquele instante o mundo parara e o amor voltava-se pra mim. Espero não provocar no leitor a ânsia da boa inveja, pois o que viera a acontecer a seguir não desejaria ao meu inimigo de alma.

No instante que me encontrava em seus braços, um som familiar tocou ao meu ouvido: dim-dom! dim-dom! Ela em desespero empurrou-me apavorada no sofá, e, gaguejando disse: Será Jorge meu marido?! Novamente naquele momento suas palavras não me disseram nada, mas pela ávida maneira de olhar, dei-me conta do perigo. Tentei fazer algo, mas a única coisa que fiz foi me espremer no sofá. O coração batendo cada vez mais forte e eu em nada pensava. Dim Dom! Dim Dom! Ela correu até a porta e abriu calmamente. Um homem alto e moreno entrou cumprimentando-a com um beijo. Vi felicidade em seu rosto, mas essa feição logo mudou quando ele me avistou. Fechou a cara e caminhou firme em minha direção. Meu coração foi apertando, mas faltou-me ação naquele instante.

Jorge jogou sua bolsa no chão e como um relâmpago desferiu um chute em mim. Rolei do sofá caindo no chão sem defesa alguma. Percebi que ali era meu fim, e Jorge sem misericórdia nenhuma gritou para ela: - Quantas vezes já disse que eu não quero esse gato em cima do sofá!?

Samuel Boss

SAMUEL@LIMAO.COM.BR

Samuel Boss
Enviado por Samuel Boss em 27/10/2008
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