GUINADA
- Boa tarde, Doutor!
- Boa tarde, D. Zita! Como tem passado?
- Mais ou menos. Está chegando o mês de dezembro e detesto o Natal.
- Mas, é uma data bonita para os cristãos e a senhora é tão religiosa!
- Doutor, não concordo com esse negócio de desejar boas festas às pessoas que, muitas vezes, não têm o que comer. Meu coração parte.
- E por falar nisso, como está o relacionamento da senhora com o seu marido?
- Ih, doutor, não ligo mais para essas coisas. E também, já estamos pendurando as chuteiras; dobrando o cabo da boa esperança.
- Nada disso! Vocês são novos e a partida está só no intervalo. Tem ainda o segundo tempo e, quem sabe, até uma prorrogação. Acho que deveria investir mais no seu casamento, melhorar a qualidade de vida de vocês, mudar os hábitos, enfim, procurar fazer a vida ficar mais prazerosa. Agindo assim, com certeza, encontrará prazer também nas outras coisas. Assim penso eu.
- O senhor acha, Doutor?
- Claro! É triste para mim quando uma cliente me fala que acha bom quando seu marido se arranja na rua. Tente, D. Zita. Dê uma guinada, esforce, invente... A senhora é tão criativa! Conheço mulheres que vivem sozinhas e ansiosas por um companheiro para se distrair, passear, fazer amor, aproveitar a vida...
- É mesmo, Doutor? Então, vou tentar. Prometo que vou tentar.
Em casa, Zita tomou banho demorado, passou creme no corpo todo, perfumou-se e foi pegar um pijama, pensando nas palavras do médico.
- Este aqui, de margaridas amarelas, é lindo. Não. É muito tampadinho. E aquele de coraçõezinhos cor de rosa? Não. Tem mangas. Então, este compridinho de borboletas azuis, que minha cunhada Teresa me deu. Não. Tem que ser algo mais leve, tipo uma camisolinha. Mas, não tenho.
Depois de vestir uma camisola bem decotada de sua filha, ela deitou-se na poltrona da sala e pôs-se a esperar o esposo, que nunca chegava.
- Ei querida! Desculpe-me. Passei no clube Álvares Cabral depois do trabalho, fiz sauna, conversei com os amigos, tomei umas cervejas e...
Eu, hein! O que é isso!!! Uau!!! Toda sexy!!! Huuuummm! Que perninhas macias! Ah, já sei! Foi ao psicólogo hoje, não foi?
- Fui. Você gostou, amor?
- Gostei e amei! É assim que deve me esperar todos os dias. Sempre odiei aqueles seus pijamas ridículos, cafonas, mas você não me ouve.
- Bem feito! Quem mandou não estudar psicologia.
Na consulta seguinte:
- Bom dia, D. Zita! Como tem passado?
- Bem, Doutor; muito bem! Achei interessante como o senhor acertou o X da questão, da outra vez que estive aqui.
Só não entendi uma coisa: cheguei reclamando do Natal e o senhor passou, imediatamente, a falar de sexo.
-É que eu estava com o pensamento ligado no pacote econômico do presidente Fernando Henrique Cardoso. Acho que Papai Noel deste ano, de 1997, vai deixar o povo com o saco vazio.
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