Mantendo a calma (premiado)
Mantendo a calma (4º. lugar na AMBEP-RJ set/2008)
Eliane e sua filha Telma de 8 anos estavam na praça principal do bairro, tendo saído do centro comercial onde a mãe havia realizado algumas compras. Como já passavam das 13 horas, Eliane sugeriu que ambas almoçassem naquele momento antes de irem ao cinema. Telma concordou com a idéia, tendo em vista que desta vez ela escolheria o filme.
Eliane puxou a garota pela mão e sentaram-se na 1ª. mesa do estabelecimento, bem perto da janela onde tinham uma ampla visão da rua.
- Mamãe! Aqui tem bife com fritas?
- Creio que sim. Mas vou pedir um gostoso canelone com bastante carne moída para você derramar extrato de tomate! À noite lhe servirei bife em casa.
- Mamãe, eu não aprecio estas comidas italianas. Coloca bem pouquinho no prato que depois eu desconto na banana caramelada.
- Quem come pouca comida salgada não deve entupir o estômago com muito doce. Isto ajuda na criação das lombrigas!
Mal o garçon se afastou depois de deixar os pratos, Telma deu 3 garfadas na comida estacionada em seu prato. Sua fisionomia não era de satisfação, com certeza.
- Já comi bastante, mamãe?
- Ainda não chegou nem à metade. Feche os olhos e imagine estar saboreando um pudim de chocolate!
Repentinamente o vidro da janela estilhaçou sem ferir a dupla, pois os cacos foram contidos pela cortina. Os tiros ecoaram como se fossem de metralhadora, atingindo várias lâmpadas do ambiente. O garçon gritou:
- Estão assaltando o banco aqui do lado!
Os clientes da frente da loja derrubaram os pratos e se abrigaram debaixo das mesas. Os que estavam mais no fundo, correram para a cozinha, chegando a derrubar algumas iguarias sobre suas roupas. Eliane deitou por cima de Telma, num gesto natural de proteção. Foram eternos 3 minutos de gritos histéricos naquele cenário devastado.
Durante os gritos dos policiais que ecoavam na calçada esclarecendo que os bandidos já haviam sido dominados, Eliane tremendo todo o esqueleto, imaginava alguma frase para dizer à filha no sentido de aliviar o pânico da menina e reduzir o impacto da situação sobre o aspecto psicológico futuro na mente de sua filha. Aquela era uma situação capaz de arrasar até mesmo pessoas habituadas a conviver dentro do universo policial. Quanto mais crianças que mal sabiam soletrar a palavra “violência”.
Enquanto alguns clientes escapuliam do local sem pagar a conta, Telma levantou-se, ajeitou os cabelos e colocando as mãos tranqüilas sobre os ombros da mãe ajoelhada e pálida, disse com muita calma:
- Este incidente teve seu lado positivo. Não precisarei comer o resto do canelone que se espalhou pelo chão! Nem quero pedir a banana caramelada. Lá no cinema tomarei uma vitamina de abacate com um sanduba de atum. Vamos logo que já pode ter fila para comprar ingressos! Quero assistir “Sexta-feira 13 versão 27”!
Eliane desmaiou talvez pela tensão acumulada nos últimos minutos dentro daquele restaurante.
Haroldo P. Barboza – RJ – junho/2007
Autor do livro: Brinque e cresça feliz