MIGUEL VÉI E O TOCADOR DE RECO-RECO

Nossos times Agogô e Reco-Reco esperavam-me à porta do cortiço. Todavia, não era para uma partida de futebol. Queriam que me mudasse a qualquer custo, pois Pedro Macambira andava por ali, com um revólver e o bolso cheio de balas. Parece que, desta vez, não queria me dar apenas uma “lição que ficasse na lembrança durante vinte anos”.

José Cláudio foi o primeiro a surgir à minha frente:

- Você só entra se for para apanhar suas coisas e ir embora.

Os times estavam completos: Joaquim de Zé Chico, Vicente Maximino, José de Toinho, Raimundo Torquato, Raimundo Lopes, Antônio Batista Sobrinho, Tiago Batista, Manuel de Neco, João Alves de Lima, Zé Gabriel da Silva, Nelson, Nemésio e Osmar de Badué, entre outros. Eles formaram uma barreira-humana em torno de mim. Falaram quase ao mesmo tempo:

- Você tem que ir embora daqui. O Macambira está armado!

Rompi a barreira e entrei. Lá dentro, Miguel João da Silva, meu parente, o “Miguel Véi”, esperava-me.

- Pode entrar, Eudes. Já despachei o Macambira. Aquele não volta mais!

- Pelo amor de Deus, você matou o homem?!

- Não. Tomei a arma dele e joguei as balas em cima da casa. Depois, deixei um recadinho ao ouvido.

- Bateu com a coronha do revólver na cabeça do sujeito?

- Não; não precisou. Eu só disse que o sangue que corre em suas veias corre também nas minhas. Não poderia proibi-lo de matar você, mas garanti que, se isso acontecesse, na sua missa de sétimo dia, faríamos a dele de corpo-presente. Ele já poderia até encomendar o caixão. E ainda que, se ele tivesse a sorte de me acertar primeiro, que não se esquecesse: você é filho do meu primo Antônio Benedito, o surdo do Rodeador. Com certeza, seu pai vingaria minha morte e a sua. Não haveria lugar para ele se esconder.

LIMA, Adalberto;SILVA, Francisco de Assis. Fagulhas e Lampejos.