Além da Queda

Ao final do jogo a vencedora apenas olhava com um sorriso cínico o torpor da que havia sido vencida.

Lutara bravamente, mas não resistira aos golpes incisivos e planejados da adversária. Não lhe restava mais nada além da honra e da responsabilidade de saber perder naquele momento.

Olhou a platéia e teve vontade de desaparecer. De um lado o brado descontrolado dos que vibravam com a vencedora. Do outro, o silêncio entorpecido dos que assistiam sua queda amarga.

Diante do que não poderia ser mudado, levantou-se e a multidão silenciou.

Olhou ao redor como se olhasse a cada pessoa nos olhos.

Agradeceu a todos com um sorriso, independente de saber de que lado estavam.

Sentiu alívio. Sentiu-se forte.

Sabia que ainda que não houvesse vencido tinha dado um passo importante.

Era a primeira vez que experimentava a perda de algo tão significativo, mas não podia mudar nada.

Respirou. Olhou a adversária fixamente e sorriu.

Estendeu-lhe a mão e agradeceu ter sido vencida.

Lembrou-se das vezes que venceu e colocou-se no lugar dos vencidos.

Ao exibir o troféu, a adversária sorriu tripudiando sobre ela. Queria fazê-la sentir-se pequena.

Pensou depressa e num gesto espontâneo, foi a primeira a aplaudir a vitória de quem a derrotara.

Sabia que tinha dado tudo de si, sabia que não havia falhado... Mas o juiz não conseguira ver seus esforços.

O maior desafio da derrota é saber onde ela entra como vitória.

Resolveu então abrir mão do orgulho. Deixou-se invadir pela emoção e não conteve as lágrimas.

Sabia que não seria a última vez. Sabia que também venceria outras vezes.

Na vida, tudo tem dois lados. O esquerdo e o direito... O claro e o escuro... O quente e o frio... A alegria e a tristeza.

Sua dignidade valia mais que o prêmio. Àquela altura, ele era mais pesado que bonito.

Mesmo vencida naquele momento, soube fazer sua escolha.

Escolheu viver sua dor e regar as sementes da recompensa com suas lágrimas... Logo seus canteiros estariam floridos novamente, pois o Sol no dia seguinte, não tardaria a nascer.

Fernanda Vaitkevicius
Enviado por Fernanda Vaitkevicius em 11/10/2008
Código do texto: T1222504
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