Naquela tarde quente...
Ela andava despreocupada pela rua do bairro. Saiu pra ir ao mercadinho que fica a três quadras de casa, para comprar alguns produtos que estava precisando. Após as compras passou na lanchonete ali perto para tomar um suco, que o calor estava de matar.
Voltando para casa, caminhava devagar olhando tudo e todos. Gostava daquele bairro, das pessoas... De repente avistou o sujeito. Ele estava do outro lado da rua olhando para dentro de uma casa. Olhava fixamente para dentro do quintal, esperando ansioso a sua hora de agir. Não a viu passar. – Ufa, pensou. Mas ainda não estava livre dele. Ela apertou os passos para alcançar logo a esquina e sair do campo de visão do homem.
Sentiu medo. Quis correr, mas conteve-se. Apenas continuou o seu caminho com os passos apressados. Enfim conseguiu alcançar a calçada de casa, porém não conseguia encontrar as chaves. Sentiu um calafrio, a mão molhada de suor. Olhou para os lados para se certificar que o sujeito não estava vindo.
Entrou em casa depressa, chamou o gato que estava na varanda. Fechou a porta, foi até a janela e cerrou as cortinas. Estava tensa. Foi até a cozinha, colocou as sacolas sobre a mesa e bebeu um pouco de água. O gato miou. Foi até a sala ver o que era, mas evitou passar em frente a janela com medo de que o sujeito já estivesse lá fora e visse o seu vulto.
Passaram-se alguns minutos, ela já se sentia tranqüila e pronta a voltar as suas atividades quando o interfone tocou. Ficou imóvel, até prendeu a respiração com medo de que o sujeito percebesse a sua presença. Permaneceu assim, parada, por algum tempo até que resolveu ir até a janela, bem devagar, para ver se ele ainda estava ali. Puxou a cortina cuidadosamente e pode constatar que o sujeito com o carrinho cheio de tranqueiras, ou ‘utilidades’ como ele mesmo dizia, já havia ido embora. Respirou aliviada e sorriu.
– Mais uma vez consegui me livrar daquele vendedor!