O ALFORJE

ALFORJE SIGNIFICA SACO DUPLO FECHADO EM AMBAS AS EXTREMIDADES ,COM UMA ABERTURA NO CENTRO,FORMANDO DUAS BOLSAS;É USADO AO OMBRO,POR VIAJANTES OU NO LOMBO DE ANIMAIS DE CARGA,COMO O DESSA ESTORIA.QUE PERTENCIA A MEU TIO JUSTINIANO,IRMÃO DA MINHA AVÓ PATERNA,MAS,PODIA PERTENCER A QUALQUER UM,BASTANTE USADO QUE ERA POR QUALQUER NORDESTINO,PARA ACOMODAR SUAS TRALHAS,NAS VIAGENS  A CAVALO.O ALFORGE EM QUESTÃO APARECEU NESTA ESTORIA PORQUE O MEU TIO,JÁ COM QUASE 70 ANOS,NÃO SE AFASTAVA DO SEU.O CAVALO ERA SUA MONTARIA,SEU AMIGO E COMPANHEIRO,SEJA PARA REUNIR O GADO OU PARA LONGAS VIAGENS ENTRE OS MUNICIPIOS VIZINHOS,MAS,QUE NA SUA ÉPOCA,DURAVAM SEMANAS.PORTANTO,O ALJORGEDO ÁRABE AL-KHOUR)TINHA QUE ESTAR BEM ARRUMADO,UM LUGAR PARA CADA COISA,CADA COISA EM SEU LUGAR,COMO ENSINAVA O “BOM HOMEM RICARDO”,LIVRO DE CABECEIRA DE QUALQUER TABARÉU;SE SOUBESSE LER,É CLARO.

NO ALFORGE DO TIO JUSTINIANO NÃO FALTAVA NADA:TINHA O JABÁ,A FARINHA,AO CANTIL COM ÁGUA DE BEBER,O COCHONIL,PARA AMACIAR A SELA E A BUNDA NÃO DOER,ALGUNS OBJETOS DE TOILETE E FERRAMENTAS INDISPENSAVEIS.ELE ARRUMAVA TUDO CUIDADOSAMENTE.

POR ISSO,NOS ENTERROS DE PARENTES OU CAMARADAS,QUANDO SE DISCURSAVA SOBRE A MORTE,ELE,DO ALTO DOS SEUS 70 ANOS,DIZIA:

-NÃO TENHO PRESSA;AINDA NÃO ARRUMEI O ALFORJE;A DANADA VEM ME BUSCAR,MAS,EU MOSTRO A ELA,NÃO ´TOU PRONTO,UAI,FALTA AINDA ARRUMAR O ALFORJE;E,ARRUMANDO ESTOU HÁ SETENTA ANOS,ELA ESPERA.SÓ ARRUMOU TUDO AOS 98 QUANDO ,FINALMENTE,FOI REPOUSAR NO CEMITERIO  DO BREJO GRANDE,JUNTO COM TODA A PARENTELA,COBERTO POR UM CÉU CHEIO DE ESTRELAS,O MATO VERDE AO REDOR E O MUGIR TRISTONHO DO GADO,NO CREPUSCULO,EMBALANDO O SEU SONO DE PAZ.

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 06/10/2008
Código do texto: T1213706
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.