A primeira vez

Compromisso agendado. Acordou bem cedo, tomou uma ducha, lavou os cabelos e maquiou-se sem exageros como era seu hábito. Estava pronta para aquele encontro que com certeza marcaria a sua vida para sempre. Enquanto aguardava, foi invadida por pensamentos que nunca antes havia experimentado. Como teria sido a primeira vez de suas amigas; ficaram tão apreensivas quanto ela ou encararam aquilo com mais naturalidade? Será que fora muito doloroso e o que mais passara pela cabeça delas naquele momento tão importante de suas vidas? Achou melhor ignorar aquelas idéias negativas e imaginar que tudo aconteceria da melhor forma possível.

Hora de partir. Dirigiu-se para a garagem, entrou no carro, mirou-se no espelho retrovisor; com a ponta dos dedos retocou o excesso de batom que havia manchado alguns dentes e foi quando se lembrou que não os tinha escovado. - Como podia ter esquecido! O que ele iria pensar? Decerto que era uma porca.- Retornou à casa, dirigiu-se ao banheiro e tratou de fazer aquela limpeza. Escovou, bochechou com o melhor antisséptico que possuía e agora sim , estava pronta; saiu.

A meio caminho o relógio era verificado a cada instante; haviam marcado para o meio-dia. -Horário estranho, refletiu.- Mas não lhe cabia agora questionar o combinado, até porque ele dissera que era o único tempo que teria disponível naquele dia. Chegou; estacionou. Dirigiu-se ao local previamente acertado. Aproximaram-se e mutuamente beijaram-se no rosto. Convidou-a a entrar, o que ela de imediato aceitou. Sugeriu que ela sentasse e relaxasse enquanto ele iria ao banheiro; que logo estaria de volta. Retornou, e com toda a experiência que a vida lhe proporcionara, observou-a e viu que ela estava reclinada sobre a cadeira e com os olhos fechados, tranquila e serena como desejava encontrá-la. Silenciosamente, contornou-a e delicadamente sussurrou em seus ouvidos, pedindo que ela permanecesse daquele jeito, com os olhos fechados, e que tudo ficaria bem. De início ela assentiu, mas repentinamente um instinto de autopreservação assaltou-lhe o espírito e confidenciou que por ser a sua primeira vez, gostaria que ele fosse sensível e delicado para que aquele momento não fosse marcado por um trauma.

Ele sorriu, afagou-lhe os cabelos, a face e com a maestria que lhe era peculiar afastou-lhe os lábios e....

A primeira sensação foi de ardência seguida de anestesia. Ela não pôde dizer que em algum momento sentira algum espasmo, nem mesmo dor. A impressão era de que havia um vazio.

Pronto. Não foi tão ruim assim. Estava terminado. O dente foi finalmente extraído.

Beto Guimarães
Enviado por Beto Guimarães em 29/09/2008
Reeditado em 16/02/2009
Código do texto: T1203380
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