A HORA ESPERADA

- Seu Raul: estou saindo da gráfica.

Perplexo, o homem fitou-o e nada disse.

Ele continuou falando:

- Discuti com Saturnino e não há mais "clima" pra ficar aqui.

Próximo à máquina, Saturnino olhava os impressos descendo na esteira.

Então Seu Raul - com a voz mais fina e baixa? - saiu do mutismo:

- Tudo bem, o senhor pode "largar" e sexta, recebe a semana e na próxima, receberá ao que tem direito.

A seguir, levantando-se ligeiro do tamborete, cruzou a salinha e entrando no gabinete, trancou a porta.

Devagar, sentindo-se bem - apesar de desempregado - ele segurou a bolsa, fixou-a ao ombro e deixou a seção. Contudo, antes de bandoná-la, percebeu que a luz da mesa de retoques encontrava-se acesa. Que ficasse acesa! Agora não era mais funcionário da firma. Era outro, livre. Sim, para tudo, há uma hora, um dia... E ganhou a rua estreita, clareada pela luz do sol.

- E agora?

"Quando Deus fecha uma porta, abre outra", dizia sua mãe. Verdade. Deus é bom. E a figura magra, pequena de ombros curvos, se distanciou, com a chama da esperança no peito.

No céu - pareceu-lhe - a luz solar cintilava com mais intensidade. Então com humildade, sorriu, agradecido.

* * *

Paulo Carneiro
Enviado por Paulo Carneiro em 28/09/2008
Código do texto: T1201445