CAÇULINHA

Nossa filha viajou com o marido e a filha e Melina, a caçulinha das nossas netas, ficou conosco.

A garotinha de quatro anos foi muito bem até a terceira noite, quando seu pai ligou de Belo Horizonte e ela quase não respondeu às suas perguntas.

-Mel, lindinha do papai! Você foi à creche hoje, filhoranga?

-Anram...

-E a minha deusinha aprendeu muita coisa bonita?

-Anram...

Quando sua mãe falou, Mel começou a chorar e reclamou:

-Mamãe, eu quero você.

Foi um chororó aqui e em BH.

Na manhã seguinte, fomos ao parquinho e, depois de brincar bastante, a menina sentou-se na areia e pôs-se a rabiscar.

-Vovó, você sabe o que eu escrevi?

-Não, Melzinha. O que é?

-Papai, eu quero você.

-E agora?

-Eu escrevi assim: Isadora, eu quero você.

Na volta, mostrei-lhe as lojas, o supermercado, pet shop e farmácia.

-Melzinha, esta loja vende o quê?

-Vende remédio, vovó. Vão lá dentro pra você comprar uma coisa pra mim?

-Meu amor, quando a vovó se aposentar vai comprar as coisinhas que você quer, está bom?

-Compra, vovó. Compra logo. Olha. Estou tossindo muito.

-Então, vamos entrar para você tomar uma injeçãozinha no bumbum.

-Não, vovó. A gente toma é Mertiolate.

-Esse remédio não sara a tosse. O que sara é injeção.

-Não precisa, vovó. Eu tava só fingindo.