Saudade

Sozinho ali estava, na escuridão do seu quarto. Não saía dali a cinco dias. Não queria. Fora abalado por um turbilhão de sentimentos, pensamentos e lembranças que a sua mente assolaram. Pôr as idéias no lugar parecia ser o certo a fazer, mas a escuridão de seus pensamentos a tudo atrapalhava e assim não conseguia sair do lugar.

Os amigos e a família não repararam em nada, nem notaram a angustia sofrida por ele em seu sombrio quarto e muito menos sentiram sua falta nos locais de comum freqüência. Ele estava só. Abandonado com suas dúvidas sem ninguém a recorrer.

A barba já dava sinais de maus tratos, perdera toda vaidade que tinha. Estava perdido. Já duvidava da existência de Deus e se conseguira erguer – se novamente voltando a ser aquela pessoa que todos admiravam.

Olhou – se no espelho, não se reconhecia. Ele não era aquela mancha escura que ali estava, ele emitia luz. Uma luz interior que iluminava por onde passava. Lembrou – se disso. Por um segundo tentou esboçar um sorriso. Totalmente amarelo.

Não tinha mais em que pensar. Pensou em sair e voltar à vida. Desistiu. Não tinha forças. A luz apagou.

Ainda respira, sem saber como ou por que. Sente que falta alguma coisa.

Toca o telefone. Não se anima e nem corre para atende – lo, mas o faz:

- Oi amor, voltei. Estava com saudades.

O céu se abre, a vida novamente tem sentido.