Os políticos, o rabo e o umbigo.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Como espécie biológica somos um grupo bem diferenciado dos demais primatas, porque dentre as várias diferenças, chama a atenção o fato de que perdemos o nosso rabo. Ou melhor, o rabo (a cauda) característica dos Cordados Vertebrados e presente em todos os Primatas, regrediu quase totalmente no Homo sapiens, deixando um pequeno vestígio em nossa região coccigeana.

Em contra partida, quando nascemos, temos um longo cordão umbilical, através do qual estamos unidos ao organismo de nossas progenitoras, as quais nos nutrem em seu interior passando o alimento e o oxigênio dela para nós, através desse umbigo. O nosso cordão umbilical é cortado e somos separados de nossas mães no nascimento. A partir de então, temos que nos virar sozinhos. Quer dizer, o homem (o indivíduo humano) vive e cresce sem rabo e sem cordão umbilical, sendo independente para realizar as suas atividades.

Entretanto, salvo raras exceções, o homem não se preocupa com o rabo perdido, mas está sempre preocupado com o seu umbigo. Talvez isso até tenha alguma conotação, além de evolutiva, também neuro-sensitiva, haja vista que o rabo foi perdido por processos naturais de seleção, mas o cordão umbilical que não pode nos deixar nos estágios embrionários, precisa ser retirado e sua ruptura, embora drástica, é fundamental para a nossa sobrevivência isolada, depois de nascidos. Entretanto, essa é uma questão para ser discutida em outra oportunidade.

Pois é, todo político, sendo um exemplar da espécie humana, sofre essas vicissitudes da ausência do rabo e da perda do cordão umbilical. Porém, o político, parece que sempre quer se esquecer que teve rabo, mas não consegue esquecer que tem o seu umbigo. Até porque, o umbigo é uma das regiões mais frágeis e mais vulneráveis do organismo humano, sendo necessário que se fique sempre atento aos riscos que ele corre. Mas, o umbigo poderia e deveria ter uma importância menor, haja vista que ele, assim como o rabo, não tem função nenhuma no humano adulto.

Entretanto, o rabo é fundamental para os nossos primos, os outros Primatas, mesmo no estágio adulto. Esse fato permite concluir que, em sentido estritamente evolutivo, o rabo parece ser mais importante que o umbigo, pelo menos para os demais Primatas. Ora, então porque será que nós humanos, em particular os políticos, nos preocupamos tanto com o umbigo, haja vista que sua necessidade não é tão diferente e talvez até seja inferior a necessidade do rabo para nós.

O político é um tipo de humano diferenciado, pois ele é ciente de que tem ou teve rabo e mesmo não o tendo mais, ele quer esconder ou omitir a sua possível existência passada. Por conta disso, nesse instante, ele age como se o seu rabo fosse uma peça importante e para manter a integridade do rabo, ainda que fictícia, ele passa a olhar muito mais para o seu umbigo. Nessa situação, o umbigo, que também não serve para nada, passa a ser uma parte muito importante do corpo do político, pois se torna numa maneira segura de cuidar e defender o rabo. Desta forma, na defesa do rabo, o umbigo assume uma função fundamental para o homem, principalmente para o político. Na verdade, é possível concluir que: “todo político (quase todo) só está, de fato, preocupado em guardar o seu rabo e por isso investe tudo o que pode no seu umbigo”.

O político não se preocupa com o que faz, mas sim com o que o outro político faz e com o que ele próprio deixa de fazer. Quer dizer, ele olha para o rabo dos outros e protege o seu umbigo na tentativa de que os outros não vejam o seu rabo. Assim, ele cuida tanto do seu umbigo que acaba por deixar o seu rabo muito visível. Isto é, quanto mais ele defende o seu umbigo, mais ele apresenta o seu rabo, o qual não deveria existir, porque na verdade, ele não existe mesmo. Desta forma o umbigo acaba ficando protegido, porém o rabo está cada vez mais exposto. Os outros políticos se aproveitam disso e vão olhar o seu rabo outra vez. É preciso mudar esse quadro, talvez o umbigo devesse ser banido dos interesses dos humanos, em particular dos políticos brasileiros.

Os políticos e também os eleitores, aqueles que votam e elegem os políticos, devem parar de se preocupar com os umbigos, porque eles são problemas pessoais. Todo mundo tem o seu umbigo para olhar e não precisa olhar, nem enfiar o nariz (outro órgão intrometido e complicado) no umbigo dos outros. Deixar o umbigo em paz, talvez seja o melhor negócio para ele (o umbigo), para o rabo e obviamente, para o dono de ambos (o político). Até porque, como já foi dito, o umbigo é frágil e tem que ser tratado corretamente. Por outro lado, o rabo é quem precisa ser menos recatado e menos escondido. Para que se tenha mais cuidado com as coisas que se faz em relação à comunidade próxima e a sociedade como um todo, é fundamental que se libere o rabo do peso e da guarda do umbigo. O rabo tem que ser livre.

As pessoas têm que olhar mais o rabo e menos o umbigo, elas têm que enfiar o nariz no rabo e não no umbigo, pois o rabo interessa à comunidade e o umbigo não. A comunidade, por sua vez, tem que exigir dos políticos o trabalho em prol do rabo, que é coletivo e não para umbigo que é individual. O eleitor tem que votar no interesse do rabo e não do umbigo, pois o rabo é social e público, enquanto o umbigo é pessoal e privado. Temos que ser democráticos e para tanto, temos que efetivamente atuar no sentido de cada vez mais socializar o rabo e privatizar o umbigo e não o inverso. Procure tornar o rabo o mais público possível e isso, além de ser um ato democrático, será muito bom para a sua comunidade.

Na hora de votar, temos que ver qual é o candidato que mais apresenta o rabo. Certamente, este será o melhor candidato para a comunidade. Até porque, se ele não tem vergonha de mostrar e nem quer esconder o seu rabo, deverá ser um bom político. Seu rabo é público e está liberado para quem quiser ver. Esse é o político ideal, ou seja, um político de rabo solto.

Os políticos devem ser eleitos para trabalhar pela comunidade e não para defender interesses pessoais. Somente quem não tem medo de mostrar o rabo pode resolver problemas comunitários. Políticos de rabo preso só conseguem cuidar dos próprios umbigos, na tentativa de defender os seus rabos e não podem enfiar o nariz em qualquer lugar no interesse da comunidade. Por tudo isso, nas próximas eleições, não tenha dúvida, procure um político de rabo aberto, pois talvez ele seja a solução de todos os seus problemas e de sua comunidade, pois ele não estará preocupado com o umbigo. Já os políticos de rabo preso, não merecem o voto de ninguém, pois estes continuam agindo em prol de seus umbigos, no interesse de esconderem e de defenderem os seus respectivos rabos.

MORAL DA HISTÓRIA: Enquanto o umbigo cuida de si para defender o rabo, o nariz entra onde não deve para garantir o umbigo, a língua mente e se esconde da cara de pau do cérebro que tudo faz em prol do umbigo. Assim, o coitado do rabo (no bom sentido) se envergonha cada vez mais e não aparece como precisa. Talvez fosse melhor não ter umbigo, ou retirar o nariz, ou ainda exibir o rabo para corrigir a sua forma e cortar a língua para tirar o cérebro da ignorância e da maledicência e procurar viver de acordo com a natureza e com a vida, em prol da espécie humana e do planeta.

O Homo sapiens deixou de evoluir na exata proporção em que o seu rabo começou a diminuir. Ou recuperamos a importância e o tamanho social de nosso rabo ou nos extinguiremos cotós. Jamais pensei, como Biólogo, que o rabo perdido no processo evolutivo pudesse ter um valor de sobrevivência tão significativo para a nossa espécie. Recuperemos o nosso rabo. Vida ao rabo e morte ao umbigo dos políticos desse país.

Luiz Eduardo Corrêa Lima