O CANDIDATO

O CANDIDATO

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Aproximam-se as eleições e um novo tipo de cidadão se faz bastante comum nas ruas nessa época, o CANDIDATO. Segundo um amigo meu, “há mais CANDIDATOS nas ruas da cidade, do que gente”. Isso não quer dizer que os candidatos não sejam gente, embora alguns deixam margem de dúvidas quanto ao citado conceito. Mas, a citação de meu amigo é apenas força de expressão e isso não é o que está nos interessando no momento. Vamos em frente.

Na verdade o CANDIDATO é um sujeito especial e fácil de se identificar no meio da multidão urbana. O que distingue o CANDIDATO das demais pessoas são algumas características próprias, peculiares e inconfundíveis que somente eles possuem. Vejamos algumas dessas características chamativas desses insignes personagens.

1 – Os CANDIDATOS caminham pelas ruas olhando de um lado para o outro, semelhantes a juízes de tênis de mesa (ping-pong), a fim de observar tudo o que acontece e, principalmente, todas as pessoas que transitam nas suas proximidades. Não podem perder nada e nem ninguém.

2 – Os CANDIDATOS balançam e acenam com ambas as mãos em todos os momentos e para todas as direções. Há até alguns, que por causa disso, já desenvolveram um tique nervoso e outros que até estão definitivamente desmunhecando. Mas, isso é outra história que não nos interessa.

3 – Os CANDIDATOS apresentam estampado no rosto, o famoso “sorriso de orelha à orelha”. Aliás, nem todos. Apenas aqueles que têm dentes e orelhas. Os outros só apresentam um grande vazio bucal e muitas vezes também encefálico, entre as duas orelhas. As orelhas parecem flutuar, entretanto ouvem muito bem, principalmente quando alguém cita os seus respectivos nomes. Obviamente também existem aqueles sem orelhas, mas vamos continuar.

4 – Duas outras características anatômicas marcantes dos CANDIDATOS são as mãos cheias de calos de tanto apertar as mãos e dar tapinhas nas costas das pessoas que eles encontram pelas ruas e os pés achatados dentro dos sapatos sujos e com a sola furada de tanto andarem pelas ruas empoeiradas e esburacadas da cidade, as quais eles certamente irão asfaltar depois de eleitos.

5 - Os CANDIDATOS trazem consigo uma bolsa, um bornal ou coisa parecida, de onde tiram os “brindes” mais esdrúxulos, inúteis e ultrapassados que distribuem ao “público eleitor”. Canetas que não escrevem, pentes faltando dentes, chaveiros quebrados, viseiras e bonés ridículos e vários outros absurdos promocionais. Tudo isso para convencer o eleitor de sua honestidade.

6 - Muitos desses “brindes” são de campanhas passadas e, por isso mesmo, o CANDIDATO às vezes tem que explicar que o número dele não é mais aquele, que o Partido dele também mudou, que a fotografia é antiga e outras coisas do gênero. Alguns até acabam por dizer que aquele da foto é outro sujeito que parece muito com ele e que lhe ofereceu a foto como forma de colaboração para sua campanha.

7 - Por fim, esse tipo de CANDIDATO acaba por convencer o eleitor de que ele não é ele, mas que pretende ser aquilo que não é, ou tenta ser aquilo que não foi e que, se ganhar a eleição vai continuar não sendo aquilo que ele pensa que teria sido, quando realmente não foi.

8 – Os CANDIDATOS esbarram, voluntária e deliberadamente, em todos os transeuntes que encontram, apenas para poder dizer alguma coisa. E aí, soltam aquela célebre pergunta: “O Senhor ou a Senhora já tem CANDIDATO?” Até parece que CANDIDATO é algum produto ou objeto novo de uso pessoal que as pessoas adquirem para satisfazer as suas necessidades fisiológicas, ou talvez, algum bibelô para se colocar sobre o vaso sanitário ou coisa parecida.

9 - Os CANDIDATOS são os homens mais religiosos e decentes, que eles mesmos conhecem, pois eles distribuem os seus “santinhos” e admitem-se como verdadeiros poços de virtudes morais, benevolência, altruísmo, compaixão, patriotismo, honestidade e retidão de caráter. Embora, a maioria não saiba, se quer, o significado de qualquer uma dessas palavras.

10 – O CANDIDATO é um indivíduo perfeito que se qualifica como se fosse o próprio MESSIAS (Esse, infelizmente, não é CANDIDATO.) Cada CANDIDATO se acha capaz de resolver todos os problemas do mundo, desde que, obviamente, o mundo vote neles e não no MESSIAS ou em outro CANDIDATO qualquer, até porquê, com tantos qualificativos, ele é o melhor e o mais bem preparado para ocupar o cargo eletivo em questão.

11 - Os CANDIDATOS costumam estar acompanhados de outras figuras ilustres, os famosos “CABOS ELEITORAIS”. Esses últimos são os maiores “puxa-sacos” dos CANDIDATOS e confirmam tudo o que eles dizem. Se vocês não identificarem o CANDIDATO, certamente identificarão o CABO ELEITORAL, porque essa é uma figura ímpar, devidamente trajada com a cara do CANDIDATO no peito e com todos os seus “brindes” e apetrechos à mostra, na dá para confundir.

12 – São os CABOS ELEITORAIS que vendem a imagem do CANDIDATO. Aliás, alguns CABOS ELEITORAIS são tão eficiente no ofício de vender, que acabam vendendo não só a imagem, mas também o próprio CANDIDATO, a quem juraram servir, mas isso não cabe discutir aqui. Por outro lado, tem CABO ELEITORAL tão bom, que o eleitor acaba votando nele ao invés do CANDIDATO que ele representa ou deveria representar. É nesse instante que a coisa fica preta, pois o CANDIDATO sente-se vendido pelo CABO ELEITORAL que havia comprado (coisas da política). Quer dizer a coisa vira um mercado mais complicado do que o mercado de ações na Bolsa de Valores.

13 - O mais engraçado com todos os CANDIDATOS é que todos eles já ganharam as eleições, antes delas ocorrerem, pois o número de votos que eles “têm certeza” que receberão é mais que suficiente para elegê-los e, talvez até, aos demais candidatos de seus, respectivos, partidos ou coligações. Aliás, se somarmos todos os votos que os CANDIDATOS dizem que terão, o número total de votos será, pelo menos, vinte vezes maior que a população da cidade.

14 - Esse fato anterior mostra uma outra peculiaridade dos CANDIDATOS. A grande maioria deles não é apenas semi-analfabeta, muitos não sabem nem fazer contas, mas mesmo assim, ainda há aqueles que conseguem se eleger e vão ocupar uma cadeira na Casa de Leis da Cidade.

15 – Outra coisa interessante é que todo CANDIDATO tem um Partido, que é representado por uma sigla referente as iniciais do nome do Partido. Nesse aspecto, o Brasil tem mais um lamentável absurdo recorde, pois ao todo são 28 Partidos registrados e assim são 28 siglas partidárias no país, além das diferentes coligações locais. Mas, é claro que cada Município tem uma situação específica. Faça o teste, pergunte ao CANDIDATO o que significa a sigla do Partido dele, ou qual é coligação a que ele pertence. Você vai ouvir de tudo e ocasionalmente até poderá ouvir a coisa certa, mas isso é o menos provável.

16 – O CANDIDATO é efetivamente uma figura muito diferente do cidadão comum, até porque ele entende de tudo do feijão ao avião e se for preciso ele revoga até mesmo a Lei da Gravidade para atender o interesse de seu eleitorado. É conhecido o caso do CANDIDATO que depois de eleito fez uma Lei acabando com as subidas da cidade para facilitar a mobilidade dos deficientes físicos. Na cidade daquele VEREADOR ELEITO só poderiam existir descidas. O pior de tudo é que isso é verdade.

1 - O mais interessante nos candidatos são os currículos que muitos possuem e os motes que eles apresentam em suas campanhas. Veja o exemplo abaixo:

Para Vereador, vote em “Zé do Tombo”.

Analfabeto há mais 35 anos; ex-ladrão de galinhas; ex-roleiro da feira da barganha e ex-muambeiro; tarado por vocação e drogado por opção; desocupado profissional, exercendo a função de Vigia ou Fiscal da Natureza sempre que solicitado; super preparado para exercer uma função política, pois, além de picareta, não é chegado a trabalho e gosta de ganhar dinheiro facilmente. Se for eleito estará investindo em si e nos seus interesses pessoais, pois precisa melhorar de vida e como não tenta e assim não consegue arranjar um emprego, a Câmara Municipal é sua última esperança, pois é a única opção que lhe sobrou.

“Zé do Tombo”, aquele que além de estar caindo no nome, cai também nas pesquisas e certamente levará o seu eleitor ao abismo e deixará sua cidade num profundo buraco. Caia na realidade você também, acredite na sua intuição e eleja para Vereador o seu amigo de sempre “Zé do Tombo”.

Meu caro eleitor fique atento, pois existem vários “Zés do Tombo” por aí, dando tombo e iludindo muita gente boa. Não caia nessa fria e tome cuidado com os CANDIDATOS. Votar é necessário e salutar, mas é preciso estar ligado para não ser enganado pelos inúmeros CANDIDATOS que estão perambulando pelas ruas da cidade à caça dos eleitores e de seus respectivos votos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima