DOS SALMOS AO SÉCULO XXI

Ela acabara de completar noventa e um anos, e me fizera apenas um comentário:

-Sinto algumas limitações no corpo.Meus ouvidos já não são os mesmos...

"Nada demais", conclui.Hoje em dia, às vezes é bom mesmo não escutar a alguns...é quase uma defesa salutar.

Mas,sempre que ouço tais queixas relacionadas ao tempo, reporto-me imediatamente ao Salmo 90, que relata a dificuldade física que havia naquela época, ao se ultrapassar a casa dos setenta anos de idade.

AS COISAS MUDARAM.

A ciência evoluiu, os conhecimentos aos poucos foram sendo aplicados nas populações, e a expectativa de vida aumentou, tanto em qualidade quanto em quantidade.

Envelhecemos enquanto população.

Curiosa, eu lhe perguntei até qual idade ainda não sentia as tais das limitações das quais a mim se queixara, ao que me respondeu que até aos oitenta e sete anos caminhava cerca de dez quilômetros por viagem, EM POUCOS DIAS, quando chegava na sua cidadezinha, situada numa região da Itália.

-De cidade grande, basta São Paulo! Aqui pouco conseguimos andar...

Perguntei-lhe então, qual seria o segredo duma mente tão ágil e tão lúcida, ao que me sorriu docemente, balouçando os ombros, e sem muito me esclarecer .

Por fim, perguntei-lhe sobre os prazeres atuais da vida, nesse grande privilégio de poder descrever a alguém como é ter noventa e um anos.

-Meu grande prazer? O xadrez, o bridge, que por aqui já não encontro com quem jogar, e as palavras cruzadas...e embora com dificuldade, ainda ouvir os sabiás das manhãs que sempre me trazem novas primaveras...

(Verídico)