NA SALA DE ESPERA

Enquanto espero, penso no que pensar. Tento arrumar um meio de o tempo passar.

Na sala de espera fotografo mentalmente todos os objetos, reparo na decoração de gosto duvidoso. Creio que a moça da limpeza não está fazendo seu serviço direito, tem poeira nos cantos... bem que podiam

ligar a televisão, que tédio!

Reparo na moça á minha frente, ela balança a perna em sinal de impaciência, acho que ela precisa de uma pedicura – como pode deixar as unhas dos pés crescerem tanto? E ainda tem sujeira nos cantos... eca!

O tempo não passa, pensamentos vêm e vão rapidamente, não consigo me concentrar. Resolvo arrumar a bolsa – nossa! Como mulher carrega inutilidades na bolsa na esperança de um dia precisar, quinquilharias que nunca usa. Se tivéssemos a praticidade dos homens, com certeza antes de carregar tanta coisa, estudaríamos a probabilidade de usarmos cada uma delas e chegaríamos á conclusão

de que muitas delas não deveriam fazer parte do conjunto – se é que existiria um conjunto, afinal homem usa apenas uma carteira, com os documentos essenciais e o dinheiro, isso quando estes não estão espalhados nos bolsos da calça.

Retiro a carteira da bolsa e começo a tirar o que tem dentro dela, carteira de motorista, RG, título de eleitor – para quê? – cartão do banco, do outro banco, do supermercado, do outro supermercado, daquela loja de departamentos, CPF, carteira do convênio médico (minha e dos filhos), carteirinha do dentista (de todos também), fotos

3x4 da família inteira, cartão de visita de todas as pessoas que me deram até hoje – tem gente que nem lembro mais – tem até uma listinha de supermercado antiga toda dobrada. O compartimento para moedas está lotado – deve ser por isso que a carteira pesa tanto, nunca gasto moedas, só dou notas e recebo moedas de troco, odeio moedas! Notas grandes de um lado e pequenas do outro – que organização... Ah, tem até um palito de dentes embalado, escondidinho, a gente nunca sabe quando pode precisar de um... Ufa! Consegui jogar três cartões de visita fora, já é um avanço, palmas pra mim!

Olho no relógio, passou apenas 15 minutos, resolvo então fazer a faxina na bolsa, despejo o conteúdo no sofá ao lado, a moça me olha

com uma cara de espanto – Será que ela nunca fez limpeza em sua bolsa? Do jeito que cuida dos pés, imagino como seja sua bolsa...

Não sei como não caiu barata também, minha bolsa é uma bombonière perfeita, havia três balas, dois chicletes, uma caixinha de tic-tac e um

bis. Aproveitei e enfiei um chiclete na boca. – Olha meu MP4! Estava aqui o tempo todo e eu achando que estava perdido, bem, de certa forma estava né. Coloquei na pasta "músicas nacionais", estava distraída ouvindo Adriana Calcanhoto, quando mexi no porta-óculos;

foi aí que quase morri de susto, um "troço" marrom pulou dele. Com o coração disparado eu dei um salto e um grito de horror ao mesmo tempo, jogando para o alto tudo o que tinha nas mãos. Olhei para o chão e o "troço" marrom estava lá, inerte, aproximei-me e lá estava;

um caroço de caqui – ai que vergonha, o que um caroço de caqui estava fazendo dentro do meu porta-óculos? A moça me olhava como

se eu fosse louca, e eu reparando nos pés dela, o que falar então de

um caroço de caqui esquecido em minha bolsa?

Ta vendo como não devemos julgar as pessoas! Em meio a esses pensamentos ouvi a atendente de meu dentista chamar pelo meu nome, juntei tudo e enfiei na bolsa novamente, me encaminhei para o consultório, dei um sorrisinho amarelo para a moça ao lado, que pareceu ficar triste por eu estar indo embora, afinal eu lhe proporcionei bons momentos para matar o tédio – deve estar rindo da minha cara até agora.

Pensando bem até que nem demorou muito. O que seria de mim sem minha bolsa, fiel companheira?

Acho que adoro ser mulher... ser homem, sujeito simples e prático, deve ser muito chato... afinal eles nem carregam bolsa.

Luazul
Enviado por Luazul em 14/09/2008
Reeditado em 17/09/2008
Código do texto: T1177876
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.