A ORAÇÃO DE SANDRA

A oração de Sandra

Sandra, a dona de casa feliz, aquela que ama a vida de casada. Adora o marido, o filho e tudo que diz respeito ao seu cansativo, rotineiro mas tranqüilo dia-a-dia. Apenas um pequeno problema a estava preocupando, a televisão, só existia uma na casa e bastava que Alex, seu marido, entrasse em casa para que o aparelho se tornasse propriedade particular, e isso a estressava. Então, como uma ótima esposa, Sandra escreve um bilhetinho em trovas para seu Santo Expedito e deixa-o bem às vistas para que Alex o leia. Diz o bilhete:

Oração da televisão

Em minha casa já quase paga

Confortável e espaçosa

Quando aqui vêm meus amigos

Fico alegre e muito prosa

Só existe um probleminha

Que se lembro enrubesço

Quando meu marido chega

Da televisão esqueço

Já que todos os programas

Que eu gosto de assistir

Sempre fazem meu marido

Cochilar, mesmo dormir.

Por exemplo, às oito e meia,

O desencontro é geral

Ele gosta da novela

E eu: Notícias no Jornal.

No domingo, passo às tardes,

Só dependendo da sorte,

Se ele pegar no controle

Para no canal de Esporte.

Na segunda-feira à noite

Com debates diferentes

Eu me ligo na Cultura

Ele quer ver “Tela Quente”.

Meus programas preferidos

Quase nunca os assisto

Por isso, ao Senhor imploro:

“Acabe logo com isto!”

Não precisa ser tão grande

Pode pequenina ser

Eu só quero uma tevê

Que seja, às vezes, só minha.

Se assim for atendida,

Muito grata e emocionada

Nos afazeres serei

Atenciosa e dedicada.

Senão, triste ficarei

Garantindo de antemão

Que tirarei da despesa

Pra comprar uma televisão.

Sua filinha querida

Que nunca, nunca o esquece.

Uma esposa dedicada

Que mais tranqüila agradece.

À noite quando Alex chegou do trabalho, como sempre fazia, jantou e sentou-se à frente da tevê. Assistiu a seus programas preferidos e pela manhã saiu para trabalhar sem nada dizer. Sandra, decepcionada, passou o dia mau humorada até a hora em que bate à porta o entregador de uma loja de eletrodomésticos indagando sobre dona Sandra Santos. A dona de casa feliz corre para receber sua mais que abençoada televisão. E isso em pleno século XXV.