Chuva e restauração - Mini conto
Chuva e restauração
Um dia em que a chuva teima em se prolongar. Da janela da cozinha, através do vidro embaçado, um imenso gotejar. Via apenas chuva nos telhados ao redor, lavados, encharcados. O apartamento silencioso, raro assim, todos saíram. Sentou no sofá gasto da sala, desta vez não ligou o rádio, sentiu necessidade de escutar os próprios pensamentos, culpa e absolvição. Aquietou as pernas junto ao corpo, o tempo era bom a chuva intensa abrandara o calor Equatorial,passou as mãos nos cabelos longos e sem brilho,tocou o rosto, sentiu a pele seca sem viço.Tateou o ventre, aquele que abrigara seus bens maiores. Os bens cresceram e se encaminharam, a flacidez e medidas aumentadas com o tempo a faziam sentir certo incômodo. Calou até os pensamentos.
Não permitiu lágrima alguma, não daquela vez. Apenas transmutou os pensamentos e os fez ações. Em um instante colocara o vestido amarelo fechado com esforço,um jeito nos cabelos, um batom laranja nos lábios empalidecidos.
Um bilhete, a porta que bate um ciclo que encerra.
Viradas páginas, rasgados capítulos.
Reinventar.
Restaurar.