O SAMBA

Com o final do ano, terminava também o curso de magistério.

Zezinha iria virar professora.

Moça meiga, vinda do interior para estudar na Capital.

Depois de formada iria voltar para lecionar no município.

Humildade e obediência eram suas características.

Fazíamos parte do Grupo de Juventude do Barro (GRUJUBA) e estávamos eufóricos com a formatura da colega benquista por todos.

Os pais não viriam para as comemorações.

Colação de Grau, Missa de Ação de Graças e Baile no Clube Internacional do Recife.

Três colegas seriam os acompanhantes.

Um para a colação, outro para a missa e eu para o baile.

No final de setembro, juntei os discos de valsa (LP), a vitrolinha Philips (aquela de plástico que tinha o alto falante na tampa) e levei para a casa da tia de Zezinha, que era nossa companheira para tudo que inventávamos fazer.

O baile seria no dia sete de dezembro, véspera de feriado no Recife e até lá, toda noite, haja valsas de Strauss, Chopin, Lehar, Villa-Lobos, Verdi até que os passos estavam todos aprendidos e nosso entrosamento perfeito.

O pai dela chegou e disse que ela não iria participar do “Samba” que aquilo não era coisa de moça decente.

Por ser muito emotivo e para não chorar em público, ele preferia que a filha fosse com os colegas para a colação e para a missa, mas para o baile, nem pensar.

Dançamos, separados mais de meio metro, para que ele visse como ia ser, mas o cabra era tinhoso e segurou no não.

Era a desilusão...

Vestido pronto, valsa ensaiada, convites distribuídos...

O Clube Internacional estava repleto.

Hora da valsa, as concluintes foram sendo chamadas e entravam no salão com os respectivos pares, sob aplausos.

A orquestra tocou Danúbio Azul, Valsa do Imperador, Vozes da Primavera... rodopiamos pelo salão quase vazio, pois os outros pares foram se juntando no centro, deixando a maior parte do espaço para nossas evoluções.

Antes de terminar a primeira valsa, a inibição e o nervosismo foram esquecidos, e Zezinha deixou-se levar... E executamos todos os passos que havíamos ensaiado.

Dançamos pelo menos cinco valsas sem parar...

Os outros casais saíram deixando o salão só para nós dois.

Quando a orquestra parou, fomos aplaudidos...

Só então notamos que havíamos dado um espetáculo nunca visto em bailes de formatura.

O pai de Zezinha não estava mais no Recife...

Houve um roubo de gado na fazenda e ele teve que voltar para o interior.

Santo Antonio tinha ouvido as preces de Zezinha que queria praticar esse ato de rebeldia, incentivada pela tia, nossa cúmplice.