Mala Pronta, Pé na Estrada
Resolvi fazer a mala. Até parecia grande, mas quando comecei a colocar nela o que achava necessário levar, começou a ficar apertada.
Ajeitei umas coisas, dobrei outras, umas menores coloquei num compartimento secreto. As mais frágeis coloquei por cima para não correr o risco de que se quebrassem, embora pudessem ora ou outra se perder.
Nossa! Faltou espaço e ainda tem tantas coisas pra colocar. Preciso rever a bagagem. Deixa ver o que eu tiro então, pra caber o necessário:
O passado eu vou deixar. É pesado demais, ocupa muito espaço e como não posso modificar melhor que fique onde está. Tudo o que adquiri com ele levo na caixinha da experiência, essa eu posso usar e cabe perfeitamente em qualquer espaço.
Por que é que eu estava levando as mágoas, as frustrações e opiniões alheias? Que descuido, coloquei na mala sem querer. Vou colocar no lixo assim quando eu voltar não haverá mais vestígio.
Deus, os meus velhos sonhos! Como poderia não levá-los? Ficaram guardados tanto tempo, tão escondidos, que uns já devem estar amarelados ou roídos pelas traças... Mas não faz mal, alguma restauração dará um jeito, e eles cabem em qualquer lugar. Vou junta-los aos mais novos, pode ser uma boa mistura, estão sempre na moda.
Vou levar o pensamento. Nele estão dobradas as lembranças das pessoas que amei e amo, e dos momentos mais felizes que vivi. Levo nele meu conhecimento acumulado, o maior bem que adquiri, de valor incalculável.
A lucidez eu vou levar até onde der, porque muitas vezes ela se confunde com minha loucura passageira. Também pesa bastante e ocupa um espaço considerável, pois não é possível não levar com ela a responsabilidade, onerosa e frágil.
Por fim, como ainda me sobra algum espaço na superfície, num lugar onde fica fácil alcançar, levo bastante amor. Ah, sim. Alguém pode precisar no caminho, pode ajudar a curar algum mal-estar. Tenho bastante. Posso distribuir a vontade e ainda que eu volte, terei o suficiente por muito tempo.
Já perdi a conta de quantas vezes fiz e desfiz essa mala. Viagem longa, cansativa às vezes. Mas estou aqui, pronta pra recomeçar. Estou pondo o pé na estrada outra vez.
A propósito, esqueci de colocar dentro da mala meu energético. Mas já que o cadeado está fechado, vai na bolsinha de fora, pra uma emergência : a ESPERANÇA.