AS QUATRO ESTAÇÕES DO AMOR
Meu relacionamento com o Rodolfo pode ser chamado de quatro estações. As quatro estações do amor. E do desamor.
A primeira estação foi o verão. Calor, paixão. Foi quando a gente se conheceu. Tudo era lindo, a gente ria de qualquer coisa. Dias passados à beira mar, brincadeiras na areia, noites estreladas de amor. Era tanta felicidade que eu julgava estar sempre voando. E com o Rodolfo era a mesma coisa. Eu via o amor nos olhos dele. Um amor que era meu. Então decidimos juntar os trapos. Aí a primavera chegou.
A primavera foi igualmente deliciosa, porém um pouco mais calma, não tão ardente como havia sido o verão. O fogo da paixão diminuiu um pouco, mas não o amor e o carinho que sentíamos entre nós. Estar com o Rodolfo, seguir aquelas rotinas domésticas... tudo era bom. Eu gostava realmente daquele novo cotidiano. Não sabia que estar casada era tão bom, bem diferente do que minhas amigas – as divorciadas e as infelizes no casamento – gritavam em alto e bom som. Foi na nossa primavera particular que minha vida profissional deu uma alavancada. Ganhei uma promoção que eu há muito esperava e sonhava. Lembro que eu e o Rodolfo comemoramos muito. Fizemos uma viagem durante um fim de semana, na serra, para brindar as novidades e renovar nossos votos de amor. Foi lindo, nunca esqueci daqueles dois dias. Mas, por conta da minha nova fase profissional, nossa rotina alterou. Comecei a dedicar mais do meu tempo ao trabalho. Viagens freqüentes me afastavam do meu marido. No início, ele aceitou. Sabia que aquilo fazia parte do meu novo momento e da minha ascensão. Depois, no entanto, ele passou a dar sinais de impaciência. Queria que eu ficasse mais tempo em casa. Mas eu não desejava abrir mão do poder que eu estava alcançando, depois de tanto esforço. Eu tentei fazer com que ele compreendesse. Rodolfo não compreendeu. O outono surgiu, dando um chega pra lá na primavera.
No outono, as folhas ficam amareladas e caem. O frio chega de mansinho. Eu senti também que alguma coisa tinha esfriado no nosso relacionamento. Quando eu chegava das viagens, encontrava o Rodolfo me esperando. Mas já não havia tanta alegria. Nem ele me esperava mais com algum presentinho. Me dei conta que a única pessoa que falava era eu. Rodolfo só me escutava ou fingia que escutava. Para tentar agradar meu marido, eu trazia mimos para ele sempre, mesmo quando não estava viajando. Nessas ocasiões, eu até percebia um brilho no olho dele. E tudo ia por água abaixo quando Rodolfo pedia para que eu desse um tempo, que tentasse parar mais em casa, que alcançar o topo não era tudo na vida de alguém. Disto surgiam discussões. Eu terminava chorando, trancada no banheiro. Não era justo! Rodolfo tinha que entender o quanto minha profissão era importante para mim. Será que as coisas eram tão difíceis assim? E se fosse com ele? Sempre duvidei que Rodolfo abrisse mão das suas coisas por um pedido meu. O inverno chegou arrasador certa noite em que voltei de uma viagem de duas semanas. Retornei cheia de saudades. Eu liguei para ele todas as horas livres, mandei torpedos, e-mails, enfim, demonstrei por quinze dias o quanto meu marido era importante para mim. Abri a porta do apartamento e ele estava vazio. Fiquei murcha, sem ação. Ele só apareceu duas horas depois e quando me viu, sentada com cara de choro no sofá, confessou que tinha esquecido que eu estava por chegar.
Foi um inverno frio, gélido. Daquela noite em diante, questionei-me sobre o meu casamento. O Rodolfo também estava estranho. Quando percebi, a gente mal conversava. Nos fins de semana, ele ia para o clube e lá ficava com os amigos. Passei a ficar sozinha e para mim foi o fim do mundo. Aos poucos, começamos a ter vidas separadas. Rodolfo envolvido com os amigos. Eu, com meu trabalho. Um dia, descobri, por acaso, que meu marido estava saindo com a secretária. Então, arrasada, decidi acabar com aquele longo inverno. Peguei minhas coisas e saí de casa, disposta a colocar a luz do verão ou a doçura da primavera de volta a minha vida. Não está sendo fácil. Ainda sinto o gelo do inverno no meu coração. Mas ali adiante eu já consigo enxergar um jardim florido. E um pouco além, o sol incandescente.