FESTA DAS ROSAS

Certo dia, começaram colocando cerca e tapume no terreno baldio que ficava ao lado da casa do Coronel Ioiô e ninguém sabia explicar com que finalidade.

Caminhões enormes trouxeram muita ferragem e caixas de madeira bem grandes, muito pesadas.

Não nos deixaram ficar por perto.

Para ver o trabalho, mesmo que de longe, ficamos trepados quase o dia todo no muro do quintal de Burra Cega.

Enquanto uns homens capinavam, outros descarregavam os caminhões e outros se encarregavam de espalhar a terra trazida em caçambas para nivelar o terreno.

Acho que em dois dias estavam montados um circo, roda gigante, autopista, carrossel de três tamanhos diferentes, tira prosa (um brinquedo muito perigoso, do qual nem podíamos chegar perto) e muitas barraquinhas onde se vendia de tudo e tinha tiro ao alvo de espingarda e de argolas para acertar pinos no chão e “Monga – A mulher macaco”.

Pesadelo nosso de muitas noites depois que a festa se foi...

Barraca do beijo, maçã do amor e o posto de rádio para o correio galante com o programa “De alguém para você”.

Era a Festa das Rosas.

O bairro todo foi para a festa que durou mais de semana. Durante o dia íamos para lá acompanhar de perto a rotina das pessoas que não paravam de trabalhar.

No primeiro sábado, após a instalação, haveria matinê e nos aprontamos para passar a tarde toda naquela maravilha.

Pensamos em entrar, como penetras sem pagar nada, pulando o muro do quintal da casa de Burra Cega (ele usava óculos).

Tínhamos que chegar cedo, pular o muro e ficar escondidos no meio das barracas até que o posto de rádio começasse a tocar.

Burra Cega tinha uma irmã bem mais velha que nós e nesse dia, ela que não era de falar muito conosco, disse que dançava melhor que as bailarinas da tenda que parecia o circo.

- Querem ver?

Ligou o rádio e dançava levantando a saia. Por baixo só a natureza cheia de cabelos que parecia rir para nós cada vez que ela se acocorava.

Barretinho, eu e Cabeça da Burra estávamos extasiados...

Coração aos pulos, querendo sair pela boca sem saliva, cada vez que ela cobria nossas cabeças com a saia e roçava a coxa grossa em nossas caras.

Era a primeira vez que víamos algo tão... maravilhoso... e ela ria das nossas caras bobas, de nossos olhos arregalados, de nossas respirações ofegantes.

O espetáculo acabou pouco antes de Burra Cega sair do banho.

Desistimos da festa...

Voltamos os três, para nossas casas...

De repente tinha surgido uma necessidade coletiva de ir ao banheiro, onde faríamos coisa mais “interessante”, do que uma matinê na Festa das Rosas.