Não há como impedir

Viver é a arte do encontro ou desencontro.

Carlos Drummond de Andrade retratou muito bem isso em um de seus poemas mais famosos. Cantava o amor em todas as suas formas, com sua beleza e sua dor de uma maneira ímpar e tão atual que parece ter escrito ontem à noite:

“QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.”

Sinto como se a vida fosse uma estrada de ruas retas intercalada por curvas sinuosas que te mudam a direção sem aviso prévio, mudam e pronto.

Você nunca consegue saber o que tem depois da curva sem que esteja passando por ela. Às vezes, a curva não é só curva. É também descida. Daquelas que causam frio na barriga, e que depois que toma embalo, não dá mais pra voltar. E quando a descida acaba e você olha debaixo para cima, a inclinação é tão íngreme que a tentativa de subir novamente seria uma escalada sem os equipamentos de proteção e sem o preparo necessário. Quase um suicídio.

Não resta então alternativa. O ideal é levantar, espanar o pó da roupa com as mãos e continuar na tal estrada. Se você não toma a iniciativa de seguir por vontade própria, logo ela coloca outra descida daquelas à sua frente e você não tem como escapar. O melhor a fazer é seguir. Um passo depois do outro, como criança que está aprendendo a andar. Depois do tombo existe a sensação de estar pisando em ovos, mesmo sendo devagar, o ideal é que seja constante. Nada de correr, nada de passos largos.

Hoje cheguei numa curva daquelas, e no fim da descida, recebi um presente. Agradeci verdadeiramente por poder ser capaz de despertar o mesmo amor que João dedica à Teresa no poema Quadrilha, escrito por Drummond, em alguém que o doa a mim gratuitamente, sem esperar que eu retribua. E pensei no mesmo instante em outra frase que um outro poeta escreveu, bem provavelmente no momento em que levantava do tombo:

“Saber amar é saber deixar alguém te amar”.

Compartilho a composição que foi escrita em minha homenagem, simplesmente porque ainda acredito no amor. Ele seria o homem perfeito, se eu o amasse, porém para que o amor exista em mim para sempre, não o impeço, nem posso impedir que o faça. A única coisa que realmente possuímos de quem amamos é a lembrança imaterial no pensamento.

De vez em quando penso que sou

Refém da solidão, andando a esmo,

meu coração trilhou caminhos sinuosos

e foram tempos sem momentos luminosos,

durante os quais sei que não fui o mesmo.

Perguntas sem respostas, caminhos estranhos,

percorri infinitas vezes sem destino

dentro do silêncio, pensamentos insanos,

em murmúrios que provocam desatino

Até que a luz do amor brilhou no horizonte,

quando vieste a fazer parte da minha vida

e renasceu em mim a esperança já perdida,

de viver as maravilhas de que foste a fonte.

Mas trazendo a paz de um imenso amor

como mágica, chegaste à propicia hora.

e ao meu coração, trouxeste luz e calor

e caminhamos juntos, felizes, aqui, agora...

Só me resta agradecer este amor, que certamente encontrará alguém à altura para merecer.

Fernanda Vaitkevicius
Enviado por Fernanda Vaitkevicius em 04/09/2008
Código do texto: T1162276
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