Batom
Trinta dias exatos. Contava desde aquele dia perdido na história de sua vida e daquele amor infrutífero.
Ainda suspirava pelos cantos e se lembrava da chuva que lhe açoitara o corpo um dia antes daquele dia. Torrencialmente lavou-lhe a pele e a alma. Sim, nem essa permanecera seca.
Correu contra o tempo e contra as evidências. Aquele dia seria o primeiro dia, o mais importante, um marco. E deixaria marcas.
Estava polida, perfumada, quase irresistível. Ah, se não fosse o quase...
Chegada a hora de ir. Chegaram ao destino. Conversas e sorrisos. Saciaram a fome e alimentaram sonhos. Ah, quantos sonhos...
Trinta dias exatos. Naquele dia tão esperado, nada mudou. Ao voltar ao seu lugar, tudo permaneceu como estava antes de ir. Trinta dias arrastados, doloridos. O que fizera de errado?
Trinta dias exatos e ficou uma lembrança. Linda lembrança.
A marca? Sim, essa também ficou.
Era a do seu batom no guardanapo de tecido fino deixado sob a mesa após o jantar.