FUADES

Interessante como um único fato pode mudar o rumo da vida da gente, de um segundo para outro. E nem sempre estamos preparados para as novidades.

Emerson e eu havíamos nos conhecido há um seis meses. Desde os primeiros momentos, sentimos que era pra durar. E estava durando, para quem se conheceu no calçadão da Praça Sete em Belo Horizonte, de maneira casual.

Combinamos desde o princípio, não haver segredos entre nós, por mais difícil que fosse a revelação. E tudo ia dando certo. Até que um dia...

Havia contratado um cartão de crédito e resolvi indicar meu namorado como dependente. E a primeira fatura chegou-me às mãos. E qual não foi a minha surpresa! Como sempre, fazíamos juntos as compras, mas um item me pareceu estranho. Um pagamento num estabelecimento , de nome FUADES, num valor bem razoável. Eu nunca estive lá, pensei. Não me passava pela memória conhecer nenhum lugar com esse nome.

Minha irmã, Stella, que morava comigo, sabia bem de minha natureza e eu sempre dizia a ela que, há coisas que faz o sangue ferver como molho de lasanha a bolonhesa, em alto grau de temperatura. E o meu começava a ferver.

Passei a falar para mim mesma “ele não me falou nada dessa suposta compra, ou sobre consumo de serviços e esse nome parece ser de motel ou single´s bar e o consumo foi alto e isso não ia de maneira nenhuma ficar assim.”.

Como sempre, nunca gostei de dar o braço a torcer, mas longe de mim ser passada para trás dessa maneira, melhor era terminar tudo, antes que vire costume e eu sofra demais...mas teria de descobrir por mim mesma, jogando verde, insinuando, de qualquer maneira haveria de descobrir.

Eu já não agüentava mais, depois de ter sondado bastante para ver se caía em contradição, nada apurei junto dele. E estava difícil manter a calma diante de tamanha indiferença.

Resolvi falar com minha irmã, que morava também na república e hoje vive em Resende-RJ, para ver se eu estava exagerando na preocupação. Ela quis me ajudar tentando lembrar se conhecia algo com aquele nome, mas em vão, passou a achar que se tratava mesmo de um motel novo, que apenas nós não conhecíamos, já que ele morava na Pampulha, próximo à área de motéis.

Resolvi que não poderia esperar mais e estava chegando o dia de pagar a fatura e já havia me aborrecido o suficiente. Cheguei para ele, tentando disfarçar a desconfiança, e perguntei por que não me chamara para fazer compras naquele determinado dia, já que um sempre ajudava ao outro na hora de escolher. Ele respondeu que esteve comigo, em todas as vezes que usara o cartão, exceto em alguma ocasião em postos de gasolina.

Não me esclarecendo muito, tive que insistir, perguntando se haviam aberto algum barzinho novo ou motel perto de sua casa, ao que ele me respondeu que estava por fora. E começou a ficar desconfiado com aquela inquisição, pedindo-me que abrisse o jogo.

Não agüentando mais, cheguei o dedo bem perto do nariz dele e explodi:

- Então o que significa esse FUADES, onde você gastou uma boa nota, devia estar muito bom, não é? E quem é a sirigaita?

Ele me respondeu sem pensar:

- Você pirou mesmo hem! Você esqueceu que FUADES é aquela loja da Praça Sete em que eu comprei minhas roupas de inverno, onde você nem quis ficar lá dentro, dizendo que estava calor e o teto da sobreloja era muito baixo?

Fiquei super sem graça, não sabia o que dizer, me sentindo a própria sirigaita ofendida. Tratei de mudar rapidinho de assunto, porém, ele me conhecendo bem, passou a me gozar. Dizia que eu deveria ter passado maus bocados de tanto ciúme e que no fundo ele estava muito feliz de saber que eu me preocupava.

Até hoje, gosta de contar e de rir muito daquela traição a bolonhesa que eu sofri.

Ainda bem que hoje, casados, passados dezessete anos de um ótimo relacionamento, nunca mais meu sangue ferveu por ciúmes, já que ele nunca me dá motivos e isso é recíproco.

Fim