O PESO DE UM MAL ENTENDIDO

Este é um conto real, que vem ilustrado pelas encruzilhadas da vida, tal como ela é; ou seja, movida pelos mistérios e angustias que nós seremos humanos somos capazes de desenvolver nessa nossa vida conturbada e cheia de coincidências e incógnitas que nos pregam peça quando agimos por impulso.

Hoje estou amargurado porque me meti numa enroscada ao fazer uma investigação pessoal mal interpretada, pois a pessoa com quem conversei não entendeu que ela não era suspeita, mas apenas alguém que poderia me dar informações que podiam ser úteis à minha investigação. Explico: Os 'gatunos' – aqueles jovens furtivos que vão às residências para levar objetos que possam ser trocados por droga - estiveram na minha residência em plena luz do dia. A janela da cozinha estava aberta e, numa ação rápida, o delinqüente entrou no meu quintal e levou aparelhos eletrônicos como liqüidificador, Grill para churrasco, motor de uma batedeira. Não sei como ele conseguiu levar tudo isso em tão pouco tempo, até porque tinha de pular um muro bem alto. Enfim, aconteceu!

Ocorre que uma pessoa de minha estima – filho da esposa do segundo casamento do meu pai (viúvo), que mora num outro local - guarda seu veículo nos fundos de minha residência, numa edícula com saída independente. Foi exatamente por esse mesmo local que o “amigo do alheio” adentrou para realizar o furto.

Passado um mês do fato, fui a Shopping levar minha esposa e meus filhos e quando voltei o vitrô da mesma janela (que o larápio havia transposto para levar a res furtiva) estava quebrado e, assim, sem maiores cogitações, presumi que novamente o marginal havia adentrado no meu quintal e tentado levar mais alguma coisa, não logrando êxito em face do meu retorno não esperado, pois não teve tempo de efetuar o furto, deixando apenas um vitrô despedaçado.

Daí vem aquele turbilhão de idéais e de pensamentos que nos enchem de dúvidas e de indagações e que somos obrigados a desvendar, por questão até de segurança.. Afinal, toda minha família corria o risco de a qualquer momento deparar com um marginal em nosso quintal. Assim, verifiquei que tudo estava ocorrendo justamente no mesmo intervalo de tempo em que aquela pessoa vinha guardando seu veículo na garagem dos fundos. Apesar da pessoa ser insuspeita, por conhecê-la a muito tempo, pensei que ela própria poderia estar sendo vítima de alguém que, abusando de sua confiança, poderia estar entrando em minha residência e utilizando suas chaves. Como ele vive recentemente com uma companheira que ainda não conheço muito bem, imaginei que poderia haver alguém que se prestasse a esse tipo de conduta, ou até um vizinho que ouvisse a conversa dos dois. Enfim, presumi que essa hipótese não poderia ser descartada, até porque há muito tempo assessorei um Desembargador na área criminal e essas situações eram corriqueiras, ou seja, alguém abusando da confiança de outrem, para cometer crimes.

Aí vem o momento mais difícil. Ou seja, como falar para alguém que você não suspeita dele, mas precisa informá-lo de que você nutre a hipótese acima e que não pode ser descartada. Assim, depois de muito custo peguei ao telefone e comecei dizendo que tinha um assunto muito delicado para falar com ele, mas que, de antemão, era pra ficar tranqüilo que eu estava investigando uma possibilidade e que não tinha absolutamente nada contra ele. Relatei o segundo fato, porque sobre o primeiro ele já tinha conhecimento. Então perguntei se ele não tinha algum suspeito e se não havia nenhuma possibilidade de alguém (que desconheço) pegar a sua chave e adentrar ao meu quintal. Na hora ele me explicou que não havia nenhuma possibilidade disso ocorrer porque ele carregava a chave em seu chaveiro e que não havia ninguém que pudesse ser suspeito. Depois dessa conversa o adverti mais uma vez que não tinha suspeita sobre ele e sua companheira e que só se tratava de uma investigação e que estava satisfeito com a sua informação.

Resultado. Apesar de nossa conversa ser amistosa e sem constrangimento, percebo que hoje as coisas não andam tão bem como antes, pois a sua mãe (atual esposa do meu pai), não me cumprimenta e sinto algo estranho no ar que me deixa amargurado.

O pior de tudo é que minha esposa me informou que não foi nenhum ladrão que quebrou o vitrô da janela, mas ela própria que atirou uma pedra em um gato e acertou a janela da cozinha. Como isso ocorreu quando eu estava trabalhando e ela não me comunicou - eu presumi que tinha sido o marginal. E agora José? A “cag...está feita”! Como reparar? Estou ensaiando neste momento um elaborado pedido de desculpas? Mas, será suficiente!!!

Estou citando este episódio, para ilustrar que o mal entendido muitas vezes tem um peso enorme sobre a relação das pessoas. Apesar de ter feito tudo para que a pessoa não se sentisse alvo da suspeita, hoje sou consciente de que agi errado e, de forma alguma podia expressar a suspeita sobre o círculo de pessoas que a rodeiam, em razão do inequívoco constrangimento. Ocorre que esse tipo de episódio não se repara de forma objetiva, com um simples pedido de desculpa, pois a pessoa ficará com aquela imagem de que você não confia nela. Talvez isso só se esvairá com o tempo, pois permanecerá entre nós as arestas do fato injurioso.

A única certeza que tenho é que errei, fui precipitado, reconheço o erro e vou pedir desculpas. O que ocorrerá a partir daí vai depender das pessoas que estão envolvidas. Algumas guardam rancor; outras não. Umas superam com facilidade as surpresas que a vida oferece. Outras ficam reféns dessas pendengas pra vida toda. Espero, com sinceridade, que neste caso as coisas se resolvam sem outros constrangimentos, além dos fatos já narrados.

Enfim, creio que a minha amargura, neste momento, já é capaz de demonstrar meu arrependimento. No mais, rogo que as luzes que se acendem em nossas auras possam iluminar todos nós com uma claridade do meio dia, com o explendor do aquecimento solar, para que possamos nos sentir aquecidos pelos corações de tal forma que possamos superar essa fase, com a luminosidade da alma e com a proteção dos seres ocultos que nos acompanham na nossa orla periférica.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 29/08/2008
Código do texto: T1151583