Nina Flor

Nina nasceu e cresceu por entre as flores, plantar e colher. Mulher de ar delicado, contrastando com as mãos calejadas e os vincos precoces no rosto, vida simples, mas para o pouco que conhecia, foi feliz.

Em um ano, a vida mudou e foi obrigada a mudar o rumo de tudo, perdeu os pais, a terra, e as esperanças. Na vinda para cidade o que restou dos seus, pouco lhe sobrara: algum dinheiro, nenhuma terra, nada de flores, amigos e aquele forte instinto de continuar, que por vezes ela nem conseguia entender.

Sem estudos, era difícil arranjar um trabalho. Pouco sabia da vida, mas tudo sabia de flores. Com seu jeito humilde e desprotegido conseguiu serviço lá pelas bandas da feira, ajudar uns japoneses na venda, distribuição de flores. De sol a sol, de fome a fome Nina se revelou no conhecimento, no manuseio, na delicadeza do arranjar e no meio daquele cenário era menos perdida, tinha algum chão.

Sorriso tímido, ar de medo e vergonha sempre no rosto, às vezes sem que a vissem chorava de saudade da única vida que teve, recordando tudo que havia perdido. Aos vinte e quatro anos, desencantada da vida, nem sabia por que ali estava meio instinto talvez de sobreviver.

Sem planos, atendia a todos, encontrando força física para carregar braçadas de flores, caixas, pacotes, era o dia assim, o tempo parecia correr sem pressa e sem rumo. Acaso do acaso, quis o acaso que Antônio um dos diversos motoristas que apanhavam habitualmente as flores a visse num canto, triste, chorando baixinho. O moço a olhava sempre, gostava do sorrir tímido, dos olhos tristes, e da força que ela demonstrava ao vencer trabalho tão pesado. Tinha vontade as vezes de colocá-la no colo, proteger de toda tristeza.

Aquele era o dia. Sem muito saber o que fazer, aproximou-se timidamente, ela mal o olhou e depressa enxugou os olhos e foi-se levantando, ali não caberia tristeza, lembranças, não podia parar. Antônio então rapidamente estendeu a mão e de entre um sem número de pacotes arranjados, tirou de um uma Gérbera em tom laranja. Pegou trêmulo Nina pelas mãos e lhe entregou a flor. Ambos não compreenderam a magia do momento, mas trocaram sorrisos, nenhuma palavra, apenas um gesto, sorrisos e olhares. Mudaram ali o curso de seus dias, Nina pressentiu isso.

Tantos anos em meio às flores, do nascer do dia ao anoitecer, desde menina no campo, até aqueles dia e hora, tinha sido essa a primeira vez que ganhara uma flor. E logo Gérbera, a flor da alegria.

A flor de Nina.

Da mudança, da esperança...

# Conto que tem a participação atenciosa e carinhosa do Poeta Claiton,que com seu olhar sensível e acurado torna este conto melhor!

Obrigada Poeta pela leitura e sugestões, aceitas!