CONSELHO

Cada dia que se passa mais confirma o pensamento do meu pai.

Todo castigo prá corno é pouco...

Veja você meu compadre, eu estava em casa cuidando dos passarinhos quando bateram no portão.

Larguei o que estava fazendo e fui atender, pensando ser algum suplicante, pois eu nunca vi tanta gente viciada em pedir.

Quando não têm mais nada para pedir, pedem dinheiro para fazer enterro de anjo...

Se fosse anjo ia direto para o céu com tripa e tudo, não precisava de gente, de porta em porta, a pedir dinheiro pra fazer enterro...

Quando abri o portão tive vontade de fechar de novo e fazer de conta que não tinha ninguém em casa.

Não é que o diacho do Biuzinho de Tota, meu primo, estava com aquela cara de mamão macho, todo sujo, todo choroso, com o cabelo parecendo mais cabelo de cu de La - ursa, fedendo a pai de chiqueiro, pois tinha passado a noite toda pela rua, bebendo, vomitando, bebendo de novo, caindo nas poças de água de esgoto, mais nojento que comportamento de deputado federal.

Saí pra calçada e perguntei, que é que tu queres aqui Biuzinho?

Com a voz cortada pelos soluços o sem vergonha me disse Shyrlei foi-se embora.

Aí eu me fazendo de besta, perguntei quem diabos é Shyrlei?

Ele disse, minha alagoanazinha cheirosa.

Meu compadre aí eu peguei um ar e disse, mas rapaz bota a mão pro céu, você é o cabra de mais sorte na vida que eu conheço...

Você conseguiu se ver livre daquela rapariga sebosa, roedora de homem e ainda está com essa cara de songa monga se lamentando.

Tu pulaste uma fogueira maior que o açude de Orós, rapaz.

Agora tu podes ver outra vez a cor do teu dinheiro, que aquela besta fera torrava com os machos para te enfeitar com chifres maiores que a sem-vergonhice de seminarista.

Tu devias mandar rezar uma missa.

Tu devias ir de joelhos até o Juazeiro do Padin Ciço agradecer por ter-se visto livre daquela peste bubônica que só serviu para atrasar mais ainda a tua vida, que já não era esses balaios todos, pois um cabra que não estuda, não lê, não trabalha, só vive de conversa fiada no bilhar, ganhando dinheiro com aposta, numa jogatina infeliz, que não leva ninguém para frente e que ainda se junta com uma fazedoura de chifrudo, corno sem vergonha, fela de uma cancela batedeira, mulher cangaceira dos beiços de biquara, mais oferecida que miúdo vendido em tabuleiro, mais amolengada do que pinha de fim de feira, mais falada do que mãe de juiz de futebol, devia ter é acanhamento.

Tu devias era tomar uns banhos de descarrego, para se ver livre de uma vez por todas das mandingas, dos atrasos que aquele ebó de xangô pobre deixou em tua casa.

Levanta-te desse chão e vai tomar banho porque quem gosta de sujo é mosca e tu estás fedendo mais que moleque de rua que amorcega caminhão de lixo, estás mais nojento que pano de ferida, estás com bodum de batina de padre velho.

Aí ele disse que sem ela a vida dele tinha acabado.

Aí meu compadre eu ceguei. Entrei, fechei o portão e gritei para o infeliz... pois então Buizinho, vai te suicidar.