O riso formidável de Nina
_ ... e ela riu seu riso formidável pra mim!
Seus olhos por si só poderiam naquele momento expressar todo o arroubo de alegria que sentia. Mas acompanhavam aquelas duas azeitonas escuras todo um conjunto alegremente harmônico: lábios avermelhados, nariz levemente sobressaltado e sobrancelhas unidas, uma faceta ansiosa e misteriosamente feliz que explicitava ao mundo a onda de amor que lhe invadia a alma.
_ Sabe aquele riso dela? Aquele que deixa qualquer um com cara de bobo, de tanto olhar? Pois é, aquele sorriso formidável..
Três horas mais tarde e no meio do parque, Júlio já não agüentava mais ouvir falar da tal garota. Tudo bem que era a garota dos sonhos do Fred, mas deixar de ir pro futebol com a turma do prédio por causa dela? Ficar tagarelando a tarde toda, patinando embasbacado porque a esquisita da sala deu uma risada da cara dele no intervalo da aula?! Ahhh, aí já era demais!
_ Ou, cara, você viu que ela sempre olha pra mim durante a aula de química? – Continuava o Fred, frenético. E o Júlio... O Júlio, com aquela cara cheia de espinha e olhar de tédio não se agüentou:
_ Porra, Fred! Beija logo essa guria pra gente poder ir jogar!!!
Alfredo, ao ouvir o amigo, deixou cair a bolinha de tênis das mãos e começou a gaguejar. O Fred tinha esse problema. Toda vez que alguém tirava onda da cara dele, ou falava algo que o deixava com raiva, Fred começava a ficar vermelho e não conseguia falar mais nada até se acalmar. Geralmente demorava para se acalmar, já que a turma toda botava mais pilha enquanto sua raiva se transformava em um discurso ritmado e monossilábico que não dizia nada.
_Repeeeeee... Repeeeeete isso Jujujujujujujuju! – Frederico cansou-se de tentar falar e acabou pegando a bola do chão e acertando a cabeça de Julio, que voltou pro campinho, feliz por não ter mais de ouvir falar da tal garota.
Mas ele tinha razão, tudo que Fred mais queria no mundo era beijar Cristina (“Ahh! Cris! Cris!”). Mas tinha tanto medo de começar a gaguejar ao falar com ela, que simplesmente se escondia ou fingia não vê-la, toda vez que ela lhe dirigia um sorriso.
Era uma alma inquieta, o Fred. Passou a noite toda em claro, metade bisbilhotando o Orkut da Cris com um usuário falso, onde descobriu que ela gostava de poesia. E se animou todo. A outra metade, passou tentando escrever versos. Às cinco da manhã, Frederico se deu conta de que não sabia escrever poesias... Mas conseguiu colocar no papel meia dúzia de palavras rimadas e achou que ela gostaria. Afinal, era algo verdadeiro!
No outro dia, todo nervoso, Fred conseguiu enfiar o bilhete no meio das coisas da Cristina, e ficou de longe esperando que ela o visse. No bilhete, Fred marcava um encontro e assinava: Seu admirador secreto. Tudo muito convencional.
Quando Cristina abriu o caderno e pegou o bilhete nas mãos, a professora entrou na sala e mandou que todos se sentassem. Fred não conseguia acreditar no seu azar. Mas sentou-se no começo da fila de carteiras e não conseguiu prestar atenção em mais nada no resto da aula.
Já no fim da aula, lá estava Fred, tremendo e suando frio, no alto da escadaria que dava para o pátio. Cristina demorou um pouco, o que o fez ter todos os tipos de pensamentos desastrosos na cabeça. Mas enfim, ela veio. E se aproximou, sorrindo. Subiu as escadas e disse “oi”, sem fechar os lábios.
_ Oi, eeeu queriririririririria te dizer que ashshshshshs (ai meu deus) acho seu sorriso formidável! (Fred adorava essa palavra).
_ Eu não consigo parar de sorrir (chup!). Tem um aparelho na minha boca (chup!), que preciso usar por um mês até fazer uma operação para corrigir um defeito que tenho. – Para o desespero de Fred, ela babava enquanto falava. E estava irritada com a situação. E o Fred, não conseguiu mais falar nada.
Os olhos de Cristina começaram a lacrimejar quando viu que todos os amigos de Fred estavam do outro lado do pátio rindo da situação e saiu correndo escada abaixo. E o sorriso inabalável no rosto.
Frederico só chorou quando chegou em casa, um chorinho curto e razoável para um garoto de 13 anos. E no outro dia não jogou futebol com a turma, tampouco prestou atenção se Nina o olhava (antes de se decepcionarem, ela mencionou que era esse o seu apelido e não Cris como Fred pensava).
Bem, Cristina logo pode fazer a operação e todos perceberam que ela não era de longe a menina bem humorada que imaginavam. Já Fred, amargou duas semanas de brincadeiras dos amigos e logo tudo voltou ao normal.
Até que um dia, uma nova aluna o olhou nos olhos no meio do corredor e de seus olhos escorreram duas lágrimas. Fred ficou todo vermelho e confuso. Era um alma inquieta o Fred! E sentiu que estava apaixonado por Aline... A menina chorava toda vez que o via...