Deslizes

Mais um dia de calor. Ele adora quando o dia é assim, “mulherada de pouca roupa” é o que diz. Mas não é isso que o faz tão feliz hoje, está ansioso por outra coisa. Finalmente vai acontecer.

Ele acorda cedo, mais que o normal, também pudera, nem dormiu direito. Parece um adolescente que vai à primeira festa, ou bailinho como chamava na “época dele”. Aliás ele odeia essa expressão, diz que é coisa de gente velha e que quem vive de passado é museu.

Antes de prosseguir na estória, vale fazer um aparte para tecer algumas considerações. O nosso protagonista é um rapaz comum, de 30 e poucos anos (se eu falar a verdadeira idade dele, ele me persegue até o fins dos tempos), solteiro, de bem com a vida, mas muito mal resolvido amorosamente, nem bonito nem feio, mas ele se acha muito bonito. Ele é até chato com essa estória de se achar, mas no fundo é um cara gente boa, muitas vezes infantil como todo homem é.

Ele saiu de casa todo arrumado, errou a mão no perfume por pura falta de prática, mas foi com a sua melhor roupa, afinal era o grande dia. Nem quis comer, porque segundo ele não estava com o estômago em suas melhores condições, olha a ansiedade aí, e também não queria perder tempo.

Foi-se alegre e contente, mas confiança demais também atrapalha, e foi justamente aí que a estória começou a mudar. Achou que estava muito fácil, afinal já estava tudo previamente combinado. Perdeu a atenção aos detalhes, em pequenos escorregões foi que ele se perdeu. Cada pequeno ato que ele normalmente não faria, mas nem percebeu que estava fazendo, que ele não se policiou, foram os fatores determinantes.

E agora, vai começar tudo de novo, e talvez nunca mais ele arrume um emprego desses.