SEIS DE AGOSTO

Naquele tempo não se esperava muito da vida.

Todos se contentavam em trabalhar ir levando o tempo sem sonhos e previsões para o futuro.

A vila onde vivíamos era muito pequena e não oferecia nada para diversão ou passatempo.

Localizada na Região Norte do Estado de São Paulo, espero estar certo localizando assim, tinha apenas uma opção de entretenimento, duas festas anuais e algumas vezes íamos até Palestina, uma cidadezinha que oferecia um pouco mais de lazer.

Talves umas cento e cinqüenta casas, um grupo escolar, uma farmácia e alguns estabelecimentos comerciais.

Uma igreja que tinha como padroeiro O SENHOR BOM JESUS DA LAPA. Essa igreja pela época e pelo lugar era muito bonita. Três dos meus irmãos casaram-se lá. Situada em um terreno que chamávamos de largo da igreja, só tinha terra. Hoje segundo informações , tem até jardim.

Para quem entra na igreja do lado direito, havia um coreto e uma barraca, por sinal muito bem feitos. Onde se faziam as festas, estava também fincado ao lado da barraca um poste de madeira com um alto-falante na ponta e este era o maior animador das quermesses.

Do lado esquerdo uma figueira que com certeza contava naqueles tempos seus cinqüenta anos ou mais, verdadeiro criame de morcegos.

As pessoas evitavam passar ali à noite.

Deixei você pensar um pouco antes de identificar a pequena vila.

Não me lembro muito bem, mas creio que não era muito longe da margem esquerda do Rio Turvo e também não era tão distante do Rio Grande, que divide o Estado de São Paulo do Estado de Minas Gerais.

Às vezes na quietude da madrugada, ouvíamos ruídos da Cachoeira do Marimbondo.

Você deve estar me chamando de lerdo, pois até agora não citei o nome desse lugar tão pequeno. Eu disse pequeno por uma questão de carinho e amor, porque para nós ele era muito grande e significativo.

Não sei onde acharam esse nome e também não sei o significado dele.

Está já quase para sair da garganta como um desafio, mas esse nome tão saudoso e importante para todos nós que nascemos lá, é Jurupeba, antes era Guarda-Mor.

Estive até agora fazendo rodeios para não ser muito breve e também contribuir com a fábrica de papel. Eles fabricam e nós gastamos.

Lá pelo mês de julho, logo no início, já começavam os preparativos para a grande festa do padroeiro da pequena vila.

Tenho certeza que nem sequer uma só pessoa não estava preocupada com o grande e esperado acontecimento, pois para nós era tudo.

Roupas, calçados, chapéus, enfim, tudo tinha de ser novo, para que pudéssemos participar desse grande dia.

A FESTA DO PADROEIRO.

Seis de Agosto, era de um significado muito grande para nós. Na nossa pobre ingenuidade, era uma data marcante...

O tempo passava sem pressa, pois a única preocupação de todos era trabalhar.

Por incrível que possa parecer nós não tínhamos contas e prestações para pagar como temos agora. Parece-me que até não vivíamos. Era tão diferente!

E o grande dia chegava.

Não tinha como não notar ou passar por despercebida essa data.

Logo de manhã, toda a região era acordada com uma salva de morteiros que se encarregava de avisar a população e de fazer uma chamada dos fiéis para o grande dia festivo. E em meio aos estrondos a banda de música contribuía ainda mais para marcar o momento.

Uma programação era seguida durante todo o dia: salva de tiros, missa, pracissão, leilão de gado, leilão de porcos e finalmente à noite o leilão de prendas doadas pelos devotos do Santo.

Uma das coisas mais marcantes era a procissão, que se formava em frente à igreja e percorria as principais ruas do lugar.

Vários andores eram enfeitados com muitas flores e eram carregados por homens e mulheres que de tempo em pempo trocavam de ombro para não sentir muito o peso. E a multidão os acompanhava

e em cada rosto via-se uma expressão de fé e amor que cada um demonstrava.

Ainda hoje estão vivas em minha memória vozes cantando na procissão.

" Viva a mãe de Deus e nossa..."

Engraçado que o tempo passa tão depressa, mas as nossas mentes se encarregam de manter vivas as lembraças.

Ainda hoje vejo a procissão descer e subir as ruas e a chegada festiva da mesma na igreja para mais tarde começar o leilão.

São lembranças, apenas lembranças, que jamais serão apagadas.

E enquanto houver lembranças haverá em nossas mentes sempre um lugar para elas. Espero um dia poder voltar lá com os meus filhos que são quatro e os genros e também os netos que eram quatro mas já está vindo o quinto.

Triste é saber que nada mais voltará porque o que passou.

passou. Que seja esta uma homenagem minha ao pequenino lugar onde nasci!

(Se alguém conhecido ler este texto, há de se lembra de mim. Sou o Toninho filho do Joanim Massuia).

Orlando Massuia
Enviado por Orlando Massuia em 24/08/2008
Reeditado em 24/08/2008
Código do texto: T1144190
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