JULIA & JADE

Vou relatar como vim a amar com todo fervor e devoção duas irmãs e como isso mexeu com a minha vida. Uma era toda meiga e inocente, enquanto a outra explodia paixão e mau falava comigo, não que ela precisasse, mas eu sim! Naquela época eu tinha quinze anos e ainda morava na minha cidade natal, na baía de São Lucas.

Era fim de tarde de verão e chovia forte. Como sempre eu estava sem nenhuma proteção para a chuva, eu ajudava meu pai com o pesqueiro e vi quando uma embarcação de turistas chegava no porto, mas como estava louco para ir embora não dei a devida importância. Acabei de ajudar meu pai e seus companheiros a arrumar as redes e fiquei ainda um tempo observando-os ganhar o mar, então peguei o caminho de casa.

Assim que me aproximava, notei movimento na casa que construíram alguns meses antes do lado da minha. Curioso passei olhando intrigado para as pessoas que carregavam caixas para dentro da casa... Foi quando ela saiu até a varanda. Meu Deus, eu nunca tinha visto uma garota tão linda... Continuei encarando a garota, mas quando estava para cumprimenta-la ela me olhou com desprezo e entrou novamente, sem ter o que fazer segui meu rumo. Na outra extremidade da casa, imaginei estar vendo coisas, eu a vi novamente. Só que agora ela estava com os cabelos negros e sorrindo me cumprimentou.

--- Ola... – disse ela com voz surpreendentemente suave.

--- Oi... – respondi boquiaberto sem estar completamente recuperado.

--- Você mora aqui há muito tempo? – perguntou ela tentando puxar conversa e eu meio tonto só concordei com a cabeça. --- Que bom... Amanhã se não estiver chovendo, e se puder, você me mostra a ilha? – indagou e novamente assenti com a cabeça. --- Acho melhor você ir, pois você está muito molhado... Pode até ficar resfriado. – disse sorrindo e no momento me pareceu que o sol voltou a brilhar. --- Como é mesmo seu nome? – perguntou.

--- Leonardo. – respondi olhando-a com admiração. --- Mas aqui na baía todos me chamam de Leo... Como é seu nome? – perguntei.

--- Me chamo Júlia Andrade. – respondeu.

--- Amanhã se não estiver chovendo eu te levarei para conhecer a baía. – comentei alegre e ela sorriu.

--- Legal Leo! Então até amanhã. – ela se despediu e entrou. Fiquei um tempo ainda ali olhando para a porta fechada e depois fui embora.

Quando a noite caiu eu saí de casa e constatei que minhas preces foram atendidas, as nuvens de chuva que infestavam o céu foram definitivamente embora, deixando o céu límpido e estrelado. Tentando encontra-la novamente, fui andar pela baía e passei pela casa da Júlia e ouvi um som diferente, que até então nunca havia chegado aos meus ouvidos. Fiquei um tempo ouvindo e imaginando cenas e situações que viveria no futuro, depois voltei pra casa e fui dormir.

Como sempre fiz na minha vida, as cinco da manhã eu estava de pé, e saí para o porto para ajudar meu pai com os peixes. Dali segui para me encontrar com meus amigos e avisa-los que não iria pescar. Apesar dos protestos eles aceitaram e então voltei para casa. Os pais de Júlia estavam conversando com os meus.

--- Bom dia... – cumprimentei assim que entrei em casa. E eles responderam sorrindo.

--- Esse é meu filho Leonardo. – disse meu pai orgulhoso.

--- Minha filha Júlia já nos falou dele, disse que hoje eles vão sair pela ilha. – comentou o pai dela.

--- Isso mesmo, e ela já acordou? – perguntei curioso entrando na conversa.

--- Já, ela está te esperando. Vai chama-la... – disse a mãe dela e sem demora corri para casa deles. Júlia estava sentada na varanda me esperando. Ela estava muito bonita, com o cabelo amarrado alto e de roupa azul.

--- Está pronta Júlia? – indaguei confiante.

--- Estou Leonardo... – respondeu sorrindo e fomos passear. Mostrei cada canto da baía para Júlia, até meus esconderijos mais secretos, eu não sabia, mas estava apaixonado. Ela sorvia tudo com imenso prazer cada informação e sorria alegremente em cada brincadeira. Júlia era uma garota excepcional.

Quando voltamos para casa, o som que havia me fascinado na noite anterior estava mais uma vez inundando a baía de São Lucas.

--- Júlia, que som é esse? – perguntei curioso.

--- Violino. Minha irmã é quem está tocando. – respondeu ela dando de ombros.

--- Sua irmã? – indaguei pensativo e quando olhei bem no rosto dela percebi algo que não tinha percebido anteriormente. --- Vocês são gêmeas? – perguntei incrédulo.

--- Isso mesmo, ela se chama Jade. – respondeu com a mão na cintura. --- Porque? – perguntou curiosa.

--- Eu vi sua irmã ontem, antes de te ver... Só que ela é loira, né? – ela assentiu. --- Putis...

--- Leo, você toca algum instrumento? – perguntou Júlia.

--- Toco violão, mas também sei tocar gaita, só que não gosto...

--- Porque? Porque você não gosta da gaita? – indagou ela.

--- Na verdade eu acho que o som dela sai muito triste... Acho que é isso. – olhei para ela e vi que ela não iria ficar me perguntando os motivos. --- E você? Você toca algum instrumento? – perguntei para mudar de assunto.

--- Piano, só que ele ainda não chegou. – respondeu contente e mais uma vez me vi feliz por vê-la sorrir.

--- Que tal se de noite nos juntarmos aos meus amigos para fazermos um luau? – sugeri e os olhos dela brilharam.

--- Grande idéia Leo, posso chamar a minha irmã? – indagou.

--- Claro que sim. – concordei e ela me abraçou e senti meu coração se acelerar.

--- Até mais tarde Leo. – disse ela entrando pra casa dela.

--- Até... – dei meia volta e fui conversar com meus amigos e convida-los para o luau.

Quando me encontrei com as gêmeas quase fiquei sem fala. Jade estava de branco e parecia reluzir como uma estrela, não sei se Júlia percebeu meu fascínio mas ela não conversou comigo pelo caminho. Simão, Urso, Al e Tina já estavam nos esperando na praia, e assim que eu as apresentei o luau começou. Contamos várias histórias e cantamos várias músicas, mas minha atenção estava mais voltada para a irmã loira e todos perceberam, só que ela não parecia interessada no que eu tinha para lhe ofertar. A noite passou rapidamente, como um sonho e ao acordar me dei conta que o mês havia terminado e com ele minhas féria escolares.

Júlia caiu na mesma classe que eu, enquanto a Jade foi para outra. Enquanto eu ficava mais e mais amigo de Júlia meu coração pendia para a Jade que mau conversava comigo, sem saber o que fazer pedi ajuda ao meu amigo Simão.

--- Cê tá numa enrascada Leo, pelo que ouço sua musa é perdida, dá em cima de todos os carinhas só para provocar, mas se é isso que você quer... Vai ter um festival de música na escola, e como a gente sempre tocou juntos, podemos formar uma banda e cantar uma música pra ela. – sugeriu ele enquanto elas se aproximavam.

--- Vocês já ouviram o papo que está rolando no colégio? – indagou Jade com sua voz rouca.

--- Acabei de falar pra ele gata. – comentou Simão.

--- Que tal formarmos aquela banda que nunca saí do armário. – disse Júlia entusiasmada e eu concordei.

--- Eu na guitarra, o Simão na batera, você no teclado e a Jade...

--- A Jade no meu coração. – cortou Simão abraçado com ela.

--- Não, eu não quero fazer parte da banda... Quero só pedir a música. – disse ela convicta. --- Never say goodbye, do Bon Jovi...

--- Valeu gata, despedaça meu coração... – brincou Simão. --- Tudo bem Leo? – perguntou.

--- Tudo, e com você Júlia? – indaguei.

--- Tá... Sem problemas...

Tive que aprender a cantar a canção, já que eles me escolheram para ser o cantor. Ensaiávamos todos os fins de semanas. Mas Jade quase não aparecia nos ensaios e percebi que Júlia não estava mais confiante com a música.

--- Que tal se ensaiarmos outra... Não acho legal cantarmos uma música para minha irmã se nem ela está interessada. – disse séria certa vez, e mesmo sem vontade concordamos.

Naquela mesma noite saímos juntos, eu e Júlia e Simão e Tina. Fomos num circo que haviam montado na baía, nada de muito diferente ou interessante, mas foi muito divertido. Antes de irmos embora Simão quis apostar comigo que ele ganharia um presente para a Tina e eu não ganharia nada para a Júlia, mas no final foi eu quem ganhei e Júlia levou um leão de pelúcia para casa.

--- A noite foi ótima Leo... – disse ela enquanto caminhávamos pela praia. --- Posso até dizer que foi uma noite inesquecível... Não tocamos no nome da minha irmã e você ainda me deu um presente. – Júlia sorriu com tristeza para mim. --- Sei que você gosta dela, mas quero que saiba que meu coração bate no mesmo ritmo que o seu... – sem que eu esperasse ela me beijou a boca e foi embora correndo, me deixando sozinho.

No outro dia na igreja ela não veio falar comigo e eu imaginei que ela estivesse com vergonha, mas na escola percebi que ela estava me evitando. Por coincidência o aniversário delas cairiam bem no dia da nossa apresentação. Algumas horas antes da nossa apresentação Jade veio conversar comigo.

--- E aí Leo, minha canção está pronta? – indagou sorrindo e descontraída me abraçou.

--- Está Jade... – respondi desconfortável pois Júlia e Simão me olhavam sérios.

--- Que ótimo... – sem qualquer aviso ela me beijou e saiu, e logo em seguida Júlia também se retirou.

--- E agora amigo? – indagou Simão preocupado. --- Não sei se percebeu, mas a Júlia gosta de você... Fica nas suas mãos o que fazer no palco. Ensaiamos duas músicas... – com meias palavras Simão me deixou na mão.

Na nossa vez de se apresentar, tomei a decisão que era a música que a Jade pediu seria a cantada e sem ressalvas eles aceitaram a minha decisão. Então subimos no palco, Simão sentou no seu lugar e meneou com a cabeça em direção da namorada Tina, Al que também havia tocado antes, pegou o seu contrabaixo e ficou no seu lugar, Júlia passou por mim e assumiu seu lugar atrás do teclado e eu fui para o ponto principal do palco.

--- Nós somos as Areias do Tempo... – alguns aplausos me fizeram ficar mais nervoso. --- E vamos cantar uma canção para uma das aniversariantes do dia... Jade... – de onde ela estava ela sorriu. --- Never say goodbye... – Simão fez a contagem e comecei a cantar e posso falar com sinceridade que nunca mais na vida cantei com tamanha beleza.

Não sei se era por causa das circunstancias ou porque eu havia treinado bem. Estava num estágio emocional que só crescia. Mas quando abri meus olhos para ver o que Jade estava fazendo, desejei com todas as minhas forças sair dali. Ela estava beijando o Jonas e antes que eu terminasse a apresentação eles saíram do salão. Meu coração se quebrou em mil pedaços e quando olhei para Júlia ela também chorava.

Assim que a música terminou a platéia foi ao delírio, mas eu deixei o palco sem condições de continuar ali.

--- Cara, acho que vamos ganhar o prêmio! – disse Simão todo orgulhoso. --- Você estava ótimo Leo... – sem me olhar nos olhos ele me abraçou.

--- Valeu Simão... – agradeci. --- Vou tomar uma água e logo estou de volta.

Assim que saí vi que a Júlia ainda estava no palco, e alguns caras ajudavam a levar o piano da escola para o centro do palco.

--- Não sei se interessa para vocês, mas também ensaiamos uma música para essa ocasião, mas por alguma coisa no acaso o Leo preferiu cantar a Never say goodbye, só que eu não quero deixar isso... Só que eu também ensaiei sem que ninguém soubesse essa canção que eu vou cantar agora... – meus amigos subiram no palco. --- Sei que não estava nada programado gente, mas eu sou assim mesmo imprevisível... – disse ela olhando para a Tina e o Simão que pegou novamente as baquetas se foi para a bateria, e o Al pegou o contrabaixo. --- Essa é para você Leo... – disse ela com os olhos fechados. --- Se fiquei esperando meu amor passar... – ela começou a cantar e o silêncio da platéia foi religioso. Foi o silêncio mais bonito e esquisito que vi na vida. Não tive nem como sair para beber a água, pois minhas pernas não deixavam eu me mover.

Assim que a música acabou muitos casais se beijavam e eu fiquei sem saber o que fazer. Júlia estava em pé na frente do palco agradecendo os aplausos, quando pensei em ir para junto dela Jade passou e eu novamente fiquei sem ação. Acho que ela viu minha indecisão e partiu. Nós ganhamos o prêmio, mas só o Simão ainda estava na escola para recebe-lo.

Os dias passaram e a cada dia eu me sentia mais solitário. Jade continuava distante de mim e Júlia me evitava. Como Simão e Tina estavam namorando eu quase não mais os via, e o Al e o Urso eram minha escapatória inicial, mas mesmo assim eu me sentia deslocado. Então minha única opção foi pegar a gaita e torna-la minha companheira inseparável... Mas nem isso fez com que minha dor acabasse, então resolvi tentar a coisa mais esquisita. Fui estudar para ser padre. Ninguém mais me conhecia, eu era uma outra pessoa. Feliz por fora, mas quebrado por dentro.

--- Filho, você tem certeza que é isso que quer? – indagou o padre, percebendo que eu não tinha vocação para aquilo.

--- Eu preciso padre... – respondi com tristeza e ele ficou esperando uma explicação melhor. --- Preciso ocupar minha cabeça com algo ou então fico louco... Meu coração dói... Estou apaixonado pelas gêmeas...

--- As duas? – indagou incrédulo e eu confirmei com a cabeça. --- Você não será um bom padre Leonardo, tudo o que tem que fazer é resolver esse assunto inacabado e sua felicidade voltará... Escute seu coração e você saberá quem ama realmente. – o padre voltou para a sacristia e eu decidi voltar para casa.

Sem precisar de palavras o padre acabara de me dispensar dos seus serviços, mas como dizem, a desgraça nunca vem sozinha. Minha mãe estava chorando quando cheguei em casa e a mãe da Júlia estava com ela. Sem enrolação elas contaram que meu pai caíra do pesqueiro que estava e que havia batido a cabeça com tudo e viera a falecer... Minha dor foi tanta que descontrolado corri para fora de casa sem direção aparente. Me dei conta que estava na praia quando a onda bateu nos meus pés.

--- Leo... – a voz suave que eu tanto conhecia me chamava com imenso carinho.

--- O que foi? – indaguei com rancor, sem olhar para ela.

--- Eu vim ficar com você... – disse ela com a voz embargada. --- Posso? – perguntou. Não respondi apenas olhei pra ela. Júlia estava divina com sua camiseta laranja e sua calça escura.

--- Acho melhor não Júlia... Tentei todos esses dias conversar com você e você sempre me evitou... Não acho que esse seja o momento... Eu gostaria de ficar só. – disse por fim me voltando para o mar.

Percebi que ela não tinha ido embora, Júlia estava sentada na areia em silêncio, me observando.

--- Que você tá fazendo? – perguntei com lágrimas nos olhos.

--- Vou ficar aqui até que você me bata... Não vou deixa-lo sozinho... – respondeu chorando e eu corri para abraça-la e naquele momento choramos juntos. Ficamos ali, juntos na areia até o amanhecer, Júlia dormiu no meu colo, enquanto eu afagava seus cabelos. Quando finalmente ela acordou voltamos para minha casa, mas não havia mais ninguém lá. Minha mãe havia deixado um bilhete avisando que estava no cemitério enterrando meu pai, mas eu preferi não ir e Júlia ficou comigo. Conversamos sobre muitas coisas e sem qualquer aviso ela me beijou.

--- Desculpe Leo, eu não queria... – ela tentou se desculpar.

--- Tudo bem Júlia... – dessa vez eu me aproximei e foi minha vez de beija-la. --- Obrigado pela música daquele dia, não tinha te agradecido... Obrigado por ter ficado comigo ontem, eu precisava muito de você, obrigado por existir...

As semanas tornaram-se meses e nós nos tornamos algo mais que amigos, mas ainda não éramos namorados. Pois meu coração ainda batia pela Jade, não conseguia esquece-la. Numa noite, enquanto voltava do cais, resolvi passar pelo centro da cidade e vi quando Jade pulava o muro da escola com algo nas mãos, mas não me interessei pelo episódio, porque vi que ela correu em direção do namorado. No outro dia o diretor fez interrogatório com todos os alunos da escola, pois haviam sumidos todas as provas das três sétimas séries, e eu sabia quem era a ladra, mas nada contei. Apenas me confessei com o padre para aliviar meus pecados.

Júlia a cada dia me levava mais e mais até sua casa, de início eu achava que era para tocarmos piano, mas nossos amassos ficaram mais tórridos.

--- Pode relaxar Leo, meus pais foram até a capital, só voltam de noite... E minha irmã, você bem sabe que ela está longe daqui. – disse agitada, e eu já imaginava o motivo.

--- Eu não posso fazer isso... – Júlia me beijou ardentemente.

--- Eu quero que seja você... – disse ela me olhando nos olhos.

--- Eu o que? – perguntei desconfiado. Mas Júlia não respondeu o que eu já imaginava, ela pegou na minha mão e juntos subimos para os quartos. --- Tem certeza disso Júlia? – indaguei.

--- Tenho Leo. – disse ela convicta. --- Eu te amo e quero que você seja meu primeiro homem. – completou tirando a camiseta.

Fiquei sem palavras, mas naquele momento elas não me foram importantes. Eu gostava dela, não tinha como não gostar. Júlia era perfeita, uma garota linda... Tudo que fiz foi deixar-me levar pelos impulsos. Depois do amor, tomamos banhos juntos e voltamos para cama e ficamos conversando até que ela dormisse, então eu saí para que ela descansasse.

Saí da casa dela sem olhar para trás, me sentia realizado e livre, tão livre que eu corria como uma criança em direção à praia... Incrivelmente livre e apaixonado. Sem medo de nada, tirei minhas roupas e caí no mar.

--- Leonardo? – alguém me chamou e pela voz rouca eu sabia de quem se tratava. --- Posso entrar? – indagou Jade completamente nua.

--- Você quem sabe... – respondi sem muita certeza, no meu momento mais feliz a dúvida que sempre me perseguiu já estava voltando.

--- Eu quero você Leonardo... – disse ela me abraçando com imenso carinho. --- Eu gosto de você Leonardo, nunca disse antes pois sempre achei que você e minha irmã estavam de caso... – revelou.

--- Nós tínhamos um caso, mas eu sempre gostei de você... Desde o primeiro dia em que te vi. – contou.

Jade tocou minha boca suavemente e depois me beijou. Naquele momento Júlia ainda estava na minha mente e em meu coração, mas Jade chegou e tomou o seu lugar. Nossos corpos colados no mar eram como se fossem um só. Eu ouvia seu gemido de prazer e pensava na irmã, dormindo. Eu gostava das duas, não conseguia diferencia-las, e o mais incrível e que elas também gostavam de mim. quando voltamos para a praia, e paramos para conversar Jade me confidenciou que eu era o segundo, e sorrindo eu também disse que ela era a segunda mulher da minha vida. Ela se despediu e foi embora.

Depois de uma hora sozinho olhando as ondas quebrarem em meus pés, decidi voltar para casa. Em um dia eu realizei dois dos meus maiores sonhos, agora só precisava escolher uma das duas para namorar sério e depois casar e a única pessoa que talvez poderia me entender era a minha mãe.

--- Boa noite mãe... – cumprimentei assim que entrei em casa.

--- Onde esteve Leo? A Júlia veio te procurar. – disse calma.

--- Por aí, andando... – respondi vagamente. --- Sabe mãe eu tô apaixonado... – ela me olhou e sorriu.

--- Eu sei que sim filho... Seus olhos brilham pela Júlia só de falar nela...

--- Mas mãe eu gosto das duas... – disse aflito não deixando ela terminar sua frase.

--- Das duas? Não filho, você gosta é da Júlia. – disse ela convicta. --- É com ela que você viveu seus melhores dias de mudanças pessoais... Júlia é a mulher de sua vida filho, não a Jade... – minha mãe parou de falar, mas percebi que algo estava errado.

--- O que foi mãe? – perguntei incomodado.

--- Júlia vai embora...

--- Como assim elas vão embora? – perguntei inconformado, eu não podia aceitar.

--- Foi por esse motivo que os pais ficaram fora o dia inteiro, eles estavam procurando um lugar para voltarem para a capital...

--- Não pode ser mãe, porque? – gritei nervoso, mas ela não respondeu nada, minha mãe também chorava ela também sofria minha dor. E sem ter o que fazer eu corri para fora de casa, para qualquer lugar longe dali.

Sozinho caminhando pela baía eu percebi o quanto minha mãe estava certa, eu amava a Júlia, a Jade era apenas uma paixão de adolescente, pois foi na Júlia que eu pensei enquanto estava com a Jade no mar. Era ela que estava sempre comigo, ela por ela que eu chorava naquela noite.

--- Leo... – novamente Jade chegava sem ser chamada.

--- Porque? – perguntei sem olhar para trás.

--- Essa pergunta você tem que fazer para os meus pais, não pra mim. – respondeu ela fria como a noite. --- Você viu a minha irmã? – indagou e eu me voltei para ela.

--- Não... Ela não está na sua casa? – perguntei preocupado.

--- Não... A Júlia se mandou assim que meus pais voltaram dizendo que encontraram a casa... – ela se calou. --- Na verdade isso ela já sabia, ela fugiu quando eu contei que nós transamos...

--- Você contou pra ela? – indaguei acuado.

--- Como o mundo é pequeno né... Ela foi sua primeira mulher e eu a segunda... Você transou com as duas no mesmo dia... – disse sarcástica e aquilo me deixou nervoso.

--- Você não tinha esse direito... – disse sério. --- Tá sempre brincando com os sentimentos dos outros...

--- Você não disse que era segredo e eu...

--- Como você não disse que era segredo quando você roubou as provas da escola... – ela se calou.

--- Como você sabe? – indagou curiosa.

--- Eu vi Jade... Eu vi e nunca contei, pois percebi que não ganharia nada com isso... E porque eu achava que te amava, mas hoje eu sei que não... Que meu amor por você era fogo de palha... – deixei ela para trás e fui atrás do meu grande amor.

--- Aonde você vai? – gritou Jade, mas eu não respondi.

Procurei por ela em todos os lugares que conhecia, mas não consegui encontra-la, vencido voltei e vi que na casa dela estava tudo apagado e pensei que ela já tinha voltado e que todos estavam dormindo. Então fui para meu quarto, mas para minha surpresa ela estava deitada na minha cama.

--- Júlia... – chamei tocando-a no ombro. Ela abriu os olhos e se encolheu.

--- Como pode? – indagou antes de qualquer coisa e eu sabia do que se tratava sua dúvida.

--- Pra ser sincero com você Júlia, eu pensava que amava sua irmã, mas na verdade hoje descobri que não... Eu gosto é de você... Eu te amo...

--- Você transou com a Jade no mesmo dia...

--- Eu achava que gostava dela... – Júlia me abraçou chorando.

--- Eu vou embora Leo...

--- Você não precisa ir, pode ficar e morar aqui comigo... – disse aflito querendo que ela ficasse, mas ela só chorava.

--- Meu pai não vai deixar eu sou muito nova...

--- Eu te amo Júlia... Não vá... – pedi.

--- É preciso Leo... – respondeu me beijando. --- Mas ainda temos essa noite só nossa... – disse ela deitando na minha cama, me convidando para o amor.

Júlia acordou primeiro que eu e foi embora, mas por sorte minha mãe me acordou quando os pais dela vieram se despedir.

--- Você ia sem se despedir...? – perguntei chorando.

--- Sim... – disse ela com lágrimas pelo rosto. --- Eu achava mais fácil assim... – respondeu sorrindo.

--- Fique... – disse convicto, pensando que a vida era fácil.

--- Ele não deixaria... – respondeu chorando.

--- Vamos pedir juntos... – tentei.

--- Não quero odia-lo mais do que já odeio... Não quero sofrer mais. – disse acuada, escondendo o rosto.

--- Deixe-a ir Leo... – disse minha mãe a contragosto. --- Cuide-se Júlia... – despediu-se minha mãe entrando para casa.

--- Tchau Leonardo. – gritou Jade entrando no carro e eu apenas acenei.

--- Tem certeza que não quer tentar...

--- Eu já disse que não... Eu te amo Leo e sei que vamos nos encontrar. – disse ela se afastando.

Vi Júlia entrar no carro e não pude deixar de chorar ao vê-la partir.

Quando fiz vinte anos foi minha vez de partir da baía de São Lucas e nunca mais voltei. Também nunca mais encontrei meu primeiro amor. Sempre senti falta da baía e dos amigos que lá deixei e das duas garotas que amei. Júlia e Jade.