Quando chora uma mulher

Quando era pequena, não entendia as lágrimas da mãe. Essa chorava sozinha, baixinho, para que ninguém escutasse. Não sabia a menina que quando uma mulher chora por fora, é porque dentro as lágrimas já não cabiam. Pensava que a mãe era feliz: tinha um bom marido, que pagava as contas, fazia seus gostos e duas filhas amáveis, que atendiam todas às suas vontades. Por que chorava a mãe então? Perguntar não foi e não era a solução. A mãe dizia que tinha entrado um cílio no olho ou alguma desculpa que não enganava, e ela sabia que era coisa inventada, mas não insistia. O tempo passou e a pequena virou uma mulher grande e consciente. Foi viver sozinha e longe da mãe. Já não sabia mais quando ela chorava e se era por um cílio ou um aperto no coração. Algumas vezes ligava para mãe para saber como ela estava, podia reconhecer seus problemas, tão somente escutando sua voz. A mãe já sabia que a menina que antes se desdobrava em descobrir o que tanto afligia sua vida, agora era uma mulher e que dificilmente conseguia enganá-la. Assim que quando o telefone tocava, fazia de conta que não escutava: não queria que a filha chamasse, quando ela se sentia disposta, ela chamava. Assim viveu a garota convertida em mulher, sem nunca entender o porquê sua mãe que tinha tudo, parecia tão infeliz. Decidiu casar e ter família, pois havia encontrado um homem que a respiração lhe fazia parar e os olhos não podiam fugir do seu olhar. Era um homem bom, ou melhor, como diziam as amigas, era um bom pedaço de pão. Casou e logo ficou grávida, pois assim não estaria sempre sozinha, enquanto seu marido buscava ganhar o sustento. Os dias passavam e ela passava os dias sozinha. Ali, entregue a sua própria solidão. Nasceu sua filha e ela seguia sozinha. Ninguém escutava o que ela dizia, e todo o entretenimento que tinha era sentar em frente à televisão e cuidar do almoço, da janta e limpar a casa. Havia entendido desde pequena que essa era a vida que as mulheres deveriam ter, por isso brincavam com bonecas, ao invés de carrinho de rolimã. Um dia chorou e chorou todo o dia. Entendeu o porquê chorava a mãe e pensou em todas as outras que choravam.

Leonor Almeida
Enviado por Leonor Almeida em 22/08/2008
Código do texto: T1140897
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