Círculo Vicioso

Enroscou a mochila num dos ombros e saiu, displicentemente, procurando-se. Caminhava calado e sem um destino certo. Não tinha nenhuma pista, não sabia nem por onde começar. Resolveu seguir em direção ao sol. Cintilava um brilho ardente em seus olhos, o que o impedia de perceber o caminho. Por dias, seguiu seu instinto. Sabia que a tarefa seria árdua, mas insistia, sem jamais esmorecer. A primeira parada foi em uma pequena cidade, repleta de crianças e cachorros. O céu era meio cinza, ofuscando a cor pálida das casas. Logo percebeu que os sorrisos ali eram raros. As feições refletiam o céu carrancudo. Ninguém, absolutamente ninguém sorria. Ficou observando os olhos foscos daquelas pessoas silenciosas. Apenas acenaram-lhe com a cabeça quando o viram passar pela praça. Passou por ali sem que ninguém lhe dirigisse uma só palavra. Sabia que, naquele lugar sem vida, não encontraria a sua. Chutava as pedras que encontrava enquanto prosseguia em sua busca. Em duas cidades nas quais passou encontrou casas plantadas na mais absoluta solidão. Ali também não se encontrou. Numa cidadezinha coberta de flores viu crianças empinando pipas e velhinhos à beira das calçadas vendo o tempo desfilar belo e faceiro diante de seus olhos. Passou alguns dias ali, acreditando que, enfim, teria chegado ao seu destino. Chegou um velho, cambaleando, de barbas e cabelos longos, com uma esfarrapada mochila nos ombros. Desabou no banco da praça.

- Por favor, pode me dar uma informação? - perguntou desconfiado ao velho maltrapilho.

- O que procura? - respondeu-lhe.

- A mim mesmo.

- Pois encontrou.

- Como assim?

- Não me reconhece? Saí há muito tempo à minha procura. Vaguei pelos mais remotos lugares e, cansado de procurar respostas que perdiam-se no vento, resolvi voltar. Aqui estou, pronto para recomeçar minha procura!

Valter Pereira
Enviado por Valter Pereira em 22/08/2008
Código do texto: T1140193
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