Contas pagas!
Noite fria na dura calçada da capital paulista. Uma névoa pinta os ares e turva os olhos da profissa exageradamente maquiada que baforava um Free com filtro. A roupa inadequada para o clima era apropriada para atrair olhares masculinos. Estava fraco, Passava de meia noite e nenhum cliente apareceu.
Geni era diferente das outras moças, tinha os cabelos naturalmente ruivos e os lábios atraentes, vestia-se com estilo próprio e era a mais procurada. Mas estava cansada. O salto alto já a incomoda quando enrosca nos buracos do cimento. As esbeltas pernas geladas cobertas por meias pretas movimentavam-se com elegância de um lado para outro no passeio público. Os seios quase à mostra exuberavam como grandes frutas maduras. Vez ou outras ensaiou poses ousadas com o poste de iluminação. Mas não havia ninguém na rua além das moçoilas.
Tinha que pagar o aluguel no dia seguinte ou corria risco de ser despejada. Há muito pensava em se mudar para um apartamento só dela, mas os ganhos ainda não eram bastante. Esperava pelo cavalheiro estrangeiro que prometeu vida séria num país que ela nem sabia dizer o nome. O nome dele também era tão complicado de dizer que ela nem ousava. Começa com “V”.
Um farol então quebra a esquina e quase cega os olhos verdes da moça. O automóvel avança devagar próximo da calçada e como numa vitrine o motorista passa os olhos pelas dezenas de raparigas que precisam ganhar a vida. A luz do freio se acende ao lado de Geni. Ela se curva sexy e encara seu cliente com um enorme sorriso de contas pagas. A porta se abre para ela que altiva se senta ao lado do motorista. Quase não entendia o que ele perguntava, mas respondia “Yes”. Foram para um luxuoso hotel localizado nos Jardins onde parecia uma rainha sobre o tapete vermelho do hall. Foi quando notou que o cliente era seu estrangeiro.
Geni nunca mais foi vista na calçada de lama. Mas escreveu para as amigas da calçada da fama...