ESTRELA DA SORTE
Sou Billy Corrêa. Me acho feio e desengonçado para piorar minha vida, também uso óculos e sou tímido e tenho como paixão da minha vida minha vizinha e amiga Dominique. Uma garota problema. Não me lembro de como nos conhecemos, mas isso também não é importante. O que importa é que essa história é sobre ela...
Me lembro certa vez que eu estava numa festa, na casa de alguém menos importante. Eu como sempre estava sentado no meu canto esperando algo acontecer, enquanto os outros garotos tiravam o máximo proveito da escuridão.
Olhando ao redor vi quando ela entrou na sala onde eu estava. Dominique não sentiu, mas eu soltava todo meu peso no olhar que lançava sobre ela. Assim que me viu ele acenou e sorriu, como disse éramos amigos íntimos. Ela sempre esteve perto e ao mesmo tempo tão longe. Na verdade eu queria que ela me notasse e viesse me tirar para dançar, eu sempre tive muita vontade de beija-la, mas me diga, como beija-la se nem pra dançar eu tinha coragem de tira-la.
Sem mais nada para fazer naquela festa segui meu caminho. Não me importava de voltar para casa sozinho, o que me deixava transtornado de raiva era saber que logo mais você teria um acompanhante até sua casa. Era de madrugada quando ouvi ela me chamar debaixo da minha janela.
--- Billy, ei Billy... – ela chamou duas vezes tentando não gritar.
--- O que foi Dominique, o que você quer a essa hora? – indaguei colocando os óculos.
--- Me deixa entrar. – ela pediu acuada. --- Meu pai trancou a porta por dentro e foi dormir, me deixou pra fora. – confirmou o que eu já imaginava.
--- Tá bom, sobe aí... – chamei. Quando ela fugia do pai ela sempre subia para o meu quarto pela grade das plantas.
--- Valeu Billy, eu sabia que podia contar com você. – me agradeceu beijando minha face. --- Você é meu lucky star... – disse por fim mais relaxada.
--- Lucky star, o que é isso? – perguntei desconfiado.
--- Você é minha estrela da sorte Billy, meu anjo da guarda. – respondeu ela me abraçando. --- Toda vez que estamos juntos eu me sinto protegida. – disse Dominique por fim e eu apenas sorri, pensando nas possibilidades.
--- Tá bom... Você dorme aqui... – disse apontando para minha cama.
--- Sem essa Billy, onde você vai dormir? – perguntou atônita.
--- Durmo no sofá, já dormi algumas vocês lá, já estou acostumado. – menti.
--- Valeu meu lucky star, como posso paga-lo por tudo que me faz? – brincou sentada na minha cama.
--- Qualquer dia a gente vê isso. – respondi. Entreguei a Dominique uma camiseta minha e desci para a sala. Uma garota na minha cama e eu dormindo no sofá.
No outro dia pela manhã:
--- Billy... Levanta Billy... – era minha mãe tentando me acordar.
--- Oi mã... – cumprimentei sonolento.
--- Porque dormiu no sofá? – perguntou curiosa.
--- É que a Domi dormiu na minha cama...
--- A Dominique dormiu em casa? – indagou incrédula.
--- Dormiu... – confirmei. --- O pai dela trancou a porta e esqueceu ela para o lado de fora. – expliquei.
--- Sei... Vai chama-la que o café já está na mesa. – disse minha mãe com cara de desconfiada.
Sem contestar fiz o que ela pediu. Subi até meu quarto e quando abri a porta vi Dominique deitada de bruço deixando a mostra sua calcinha. Entrei no quarto em silêncio para não acorda-la e assim que me aproximei ela se mexeu e virou de frente, me deixando fascinado com a visão. Pensei em toca-la, mas não achei certo então só chamei.
--- Domi... – ela abriu os olhos e sorriu.
--- Bom dia Billy. – cumprimentou sem ficar com vergonha por eu estar lá.
--- Minha mãe já está com o café na mesa. – disse acanhado por aquela situação inusitada.
--- Certo... – como se não ligasse por eu estar ali Dominique se levantou ficou de costas para mim e tirou a camisa na minha frente, trocando de roupa. --- Estou pronta...
Descemos para o café e quando nos despedimos ela me disse que me ligava mais tarde. Combinamos de ir ao cinema e no caminho encontramos Lyen.
--- Oi Dominique... Oi Billy... – cumprimentou.
--- Lyen. – os olhos dela brilharam enquanto eu só balancei a cabeça. --- Onde você vai? – perguntou ela curiosa.
--- Em lugar nenhum. Porque? – indagou surpreso.
--- Vem com a gente, nós vamos ao cinema. – convidou Dominique e eu vi que a minha tarde havia acabado ali.
--- Sem problemas se eu for né Billy? – perguntou Lyen percebendo meu descontentamento.
--- Sem problemas... – concordei, mas na verdade eu me remoía por dentro.
--- Legal... – disse ela contente e seguimos para o cinema.
Fiquei de olho na tela enquanto Lyen beijava a apalpava Dominique. Não sabia se me excitava ou se chorava. Vi quando ele passou a mão sobre os seios dela e depois foi descendo, mas o pior de tudo foi ouvi-la suspirar. Como me odiei naquele dia, não fiz nada, fiquei ali sentado ouvindo e vendo sem ao menos me levantar e partir. O filme terminou e eu voltei sozinho para casa, pois Dominique ficou com ele.
Entrei em casa com vontade de sumir e antes que alguém em casa perguntasse como foi o filme e eu matasse um, subi para o meu quarto. Sem ascender as luzes liguei meu som e procurei minha luneta para me distrair olhando as estrelas, mas ao invés disso procurei pela Dominique e encontrei os dois nos fundos do quintal da casa dela no maior amasso. No outro dia foi ainda pior, ela me contou detalhes do encontro e em silêncio fiquei ouvindo seu relato.
--- Ah Billy, ele pediu que eu te convidasse para uma festa que ele vai fazer na sexta. – disse ela toda eufórica.
--- Valeu, vou ver se consigo ir. – respondi sem vontade.
--- Credo que mau humor. – disse ela me abraçando. --- Te apresento a irmã dele. – disse ela com um sorriso safado nos lábios.
--- Vou ver Domi, mas não prometo nada. – disse sorrindo amarelo.
A semana passou como qualquer outra e nesse ínterim ela me mostrava a solidão como nunca antes. Finalmente sexta feira chegou.
Lyen parou em frente de casa e buzinou.
--- Vai Billy... – gritou entusiasmado e eu sem vontade saí de casa como se fosse para ir à algum enterro. --- E aí cara... – cumprimentou todo agitado. Me sentei no banco de trás em silêncio. --- Hoje é o dia mano, hoje eu como a Dominique. – disse ele todo confiante me deixando nervoso.
--- Hoje você faz o que? – indaguei irritado.
--- Como a Domi. – respondeu sorridente. --- Chega mais Billy, vem ver uma coisa... – eu me aproximei pensando que ele iria me mostrar alguma bobeira, mas me mostrou a foto da irmã. --- Bonita né? – indagou orgulhoso e eu concordei, e realmente era. --- Ela quer te conhecer... – disse por fim antes da Dominique aparecer.
A festa rolava intensamente. Dominique me apresentou a Lena que era igual a mim. Assim como eu ela não gostava de badalação e sempre ficava nos cantos observando. Ficamos muito tempo conversando, mas meus olhos não saíam da Dominique.
--- Billy...? – ela me chamou, mas eu não dei atenção. --- Billy? – ela chamou novamente, mas dessa vez tocou no meu braço e me fez acordar. Olhei para ela sem graça. --- Posso te fazer uma pergunta? – eu confirmei com a cabeça. --- É pessoal... Você gosta da Dominique né? – Lena foi direta ao assunto.
--- Gosto... – disse sério olhando nos olhos dela. --- Gosto muito. Nós crescemos juntos, somos mais que amigos... – Lena colocou sua mão sob minha boca.
--- Vou pegar umas cervejas... – disse ela meio constrangida. Assim que Lena se levantou e de relance eu vi quando Lyen levava Dominique para os quartos. Com raiva me levantei e fui embora.
No outro dia minha mãe me chamou no quarto dizendo que eu tinha visita, quando desci vi que Lena estava sentada no sofá.
--- Oi Lena... – cumprimentei envergonhado.
--- Oi Billy... – respondeu ela me beijando a face. --- Porque ontem você veio embora sem se despedir? – indagou com tristeza. --- Será que minha companhia é tão ruim assim? – perguntou e eu percebi que ela sofria.
--- Nada disso Lena, você é ótima... Eu é que sou burro. – disse acuado. --- Me desculpe? – pedi.
--- Fiquei te procurando pela casa toda... Perdida na minha própria casa. – disse ela me olhando nos olhos. --- Até desconfio o motivo da sua saída debandada , mas não quero acreditar. – revelou.
--- Acho que você está certa Lien... – confirmei e ela se aproximou.
--- Me beija... – pediu. --- Me deixe tentar... – sem que eu fizesse algo ela mesma tomou a iniciativa e me beijou. Sua boca era macia e levemente adocicada, não sei dizer o porque, mas levei minhas mãos até seu seio... Até sei dizer o porque sim, eu queria me vingar do Lyen por ter transado com a Dominique. Lena não pediu que eu parasse, simplesmente deixou, tirei sua camiseta e percebi que estava na sala.
--- Vamos para meu quarto. – chamei e mesmo assustada, pois pude ver em seus olhos que ela estava assustada, ela me acompanhou. No meu quarto, assim que fechei a porta ela me olhou e por impulso começou a se despir, mas percebi que aquilo não estava certo. --- Por favor Lena pare... – pedi. Ela me olhou envergonhada. --- Isso não tá certo... – comentei enquanto ela colocava a camiseta.
--- Se fosse a Domi você queria! – disse nervosa saindo em seguida.
--- Lena espera! – pedi, mas ela não me deu ouvidos.
Não vi mais a Lena nem para me desculpar, pois ela não queria me ver, e até entendo suas razões. Dominique e Lyen estavam namorando e ela não mais precisava da sua estrela da sorte e eu fui esquecido, até que a primavera chegou.
--- Billy! – gritou Dominique como sempre fizera, embaixo de minha janela do quarto. Sem que eu respondesse ela subiu. --- Você precisa me ajudar. – disse ela aos prantos.
--- O foi Domi? – indaguei acuado. --- O que foi que Lyen te fez? – perguntei curioso. --- Me fala que eu quebro ele. Fala Domi! – gritei nervoso.
--- Ele não me fez nada, foi meu pai. – disse ela cortando minhas pretensões de me tornar seu herói. --- Meu pai quer que eu termine o namoro... – ao menos ele estava ao meu lado, pensei. --- Mas acho que estou grávida. – disse por fim e meu mundo ruiu.
--- Grávida... – fiquei sem fala. --- E agora Domi? – perguntei sem ação.
--- Não tenho nem idéia, por isso vim te pedir ajuda. – disse ela chorando.
--- Tá, deixa eu pensar... – na verdade eu queria de tempo para assimilar tanta informação. --- O Lyen ou o seu pai sabem? – perguntei.
--- Não... Só contei pra Lena e agora pra você, porque você sempre me ajudou. – respondeu confiante. --- Me ajuda meu lucky star, eu preciso de você... – Dominique me abraçou chorando... Sentir seu corpo no meu foi a gota d’água, eu não agüentei e a beijei. --- O que é isso Billy? – gritou apavorada se afastando de mim abruptamente. Ela me olhava indignada e com toda razão. --- Te procurei como amigo, irmão, como sempre fomos e você... Adeus. – ela saiu pela janela, como entrou.
--- Domi, me desculpe... Domi... – ela me deixou falando sozinho, mas eu fui atrás dela. --- Dominique me espere, você tem que me ouvir! – disse confiante e ela parou de andar.
--- Ouvir Billy? – ela estava transtornada. --- Você quis me beijar Billy, quem sabe mais o que...
--- Não fale isso. – pedi envergonhado. --- Me desculpe Domi... Não quis te machucar. – falei calmamente. --- Nunca quis magoa-la por isso nunca te falei... Eu sempre te amei Dominique. – revelei meus sentimentos.
--- Oh Billy eu...
--- Você não tinha como saber... – cortei. --- Vamos até em casa e pelo caminho nós pensamos em algo. – e foi isso que aconteceu. No caminho de casa eu tive a idéia de irmos para o interior, na casa de veraneio dos meus pais. Com medo ela aceitou sem contestar. Fui pra casa e peguei as chaves sem que minha mãe visse. Arrumei minhas malas, peguei minhas economias guardadas e saí escondido. Dominique me esperava no fundo do seu quintal. --- Vamos. – chamei e sem responder ela me seguiu. Não contamos pra ninguém o que iríamos fazer. Exatamente três horas mais tarde chegamos na minha casa. --- É aqui... É aqui que ficaremos até seu filho nascer. – comentei com um falso sorriso.
--- Lucky star, me desculpe pelo que fiz! – disse sem motivos.
--- Nem imagino o que está me pedindo Domi. – fingi. --- Vamos entrar! – levei nossas coisas para os quartos e desci para a sala. --- Pronto...
--- Billy, pelo amor que você disse sentir por mim, jure que nunca me deixará sozinha. – disse ela ajoelhando aos meus pés.
--- Não fale assim Domi...
--- Jure Billy... – implorou. --- Eu acho que quando o Lyen souber da criança ele nem vai ligar. – disse ela acuada.
--- Se ele não ligar eu assumo seu filho. – disse convicto.
--- Você faria isso? – perguntou incrédula.
--- Faria qualquer coisa... – respondi sério e não estava mentindo. Ela me abraçou e começou a chorar. --- Não chore Domi, você não está sozinha... Acalme-se. – pedi.
--- Estou com fome Billy. – disse ela sentando-se na poltrona.
--- Tá certo. – disse colocando a mão no bolso. --- Vou até o mercado que é aqui perto e já volto. – comentei sorrindo.
--- Tá certo... – concordou com um sorriso melancólico. --- Me desculpe Billy... – disse, mas eu não dei atenção.
Comprei alguns mantimentos e um pacote de pão e quando voltei para casa encontrei Dominique caída no chão e uma poça de sangue envolvia seu corpo. Sem pensar peguei ela no colo e levei para o meu quarto.
--- Domi... Dominique acorda vai, não faz assim... Domi! – fiquei desesperado, mas para o meu alívio ela abriu os olhos. --- O que você fez Domi? – perguntei, mas ela não me respondeu, então decidi ligar para o médico da cidade. --- Alô... Vai merda atende... Dr. Silva? Oi, estou na rua das Pedras, 16 e preciso de sua ajuda... Venha rápido que é urgente. –desliguei o telefone e fui até o banheiro e sem querer encontrei a arma do crime, uma tesoura manchada de sangue. --- Como pode fazer isso Domi... Uma tesoura? – indaguei mas ela não respondeu, ela estava toda mole. Então ouvi a campainha. Desci apressado e abri a porta. --- Entre doutor... – chamei sem prestar atenção que havia mais gente com ele.
--- Você e o Willian, não é? – indagou, descobrindo quem eu era.
--- Eu mesmo doutor, mas o problema não é comigo, tem uma amiga minha que eu acho que tá morrendo... – disse aflito.
--- Calma garoto, onde ela está? – perguntou o doutor entrando na casa.
--- Lá no meu quarto... – respondi e fui atrás dele.
--- Meu Deus... – disse ele quando viu como ela estava. --- O que ela fez? – perguntou.
--- Não sei direito, mas acho que ela enfiou uma tesoura nela mesma para matar o feto que estava esperando. – respondi
--- Você é o pai do filho dela? – perguntou desconfiado.
--- Não, mas ela pediu minha ajuda... – respondi enquanto ele a examinava.
--- Converse com ela Willian... – disse descendo as escadas.
--- Eu te amo Domi, não iria te abandonar nunca... – disse aos prantos. E não percebi que no quarto haviam dois policiais.
--- Willian... – disse o doutor tocando em meu ombro. --- Ela está morta filho... – disse calmo mas pesaroso.
--- Nãaaooo!! – gritei chorando. Os policiais me seguraram e me fizeram descer, enquanto o doutor Silva ligava para meus pais. Largado na sala junto com uma policial feminina eu rezava para que tudo aquilo fosse um sonho, mas quando desceram com o corpo eu vi que não estava sonhando. Eles levaram-na para fazerem os exames, mas eu já sabia o que de real tinha acontecido. Fiquei na delegacia até que meu pai chegou e me levou embora, no ombro amigo dele eu chorei como uma criança.
No enterro de Dominique o pai dela começou a insultar o Lyen assim que ele chegou para prestar sua última homenagem a namorada, mas eu não aceitei e esmurrei o velho. Lyen nem sabia que ela estava grávida e estava desesperado. Ele a amava tanto quanto eu.
O tempo passou e eu e Lena começamos a sairmos juntos e nos tornamos grandes amigos e mais adiante namorados. Agora estamos casados e ela está esperando um filho meu.