UM FATO NA RUA

Abri a janela da sala. Do outro lado da rua, encostadas no portão verde, estavam as duas vizinhas que com as quais eu mais me identificava.

Eram duas senhoras de meia idade. Uma delas já com os cabelos bem grisalhos e a outra ainda mantinha a cor dos cabelos de quando era jovem.

Assim que puxei a veneziana o barulho fez com que elas olhassem.

_ Bom dia dona Carla, bom dia dona Tereza.

_ Bom dia senhor Pedro _ responderam as duas.

Quando já ia me virando para dentro da sala, gritou dona Carla.

_ O senhor já está sabendo a novidade do dia?

_ Não _ respondi _ Qual é a novidade?

_ Nem queira saber. _ atalhou dona Tereza _ e continuou dona Carla.

_ O senhor conhece muito bem o seu José da padaria, não conhece?

_ Conheço sim _ respondi.

_ Pois então, a esposa dele foi passear na casa de uns parentes no interior e era para chegar no começa da semana que vem, mas não sei o porquê a coitada chegou ontem à noite.

_ E daí? _ perguntei.

_ E daí? Ainda pergunta?

Como ela tinha a chave da casa não chamou quando chegou. Foi entrando e foi direto para o quarto. Tamanho foi o espanto, pegou o seu José até sonhando com os anjos na cama com a danada da Maria que trabalhava para eles no ano passado.

_ E o que aconteceu dona Carla?

_ A coitada ficou tão descontrolada com tamanha atitude do marido, juntou as malas novamente e até agora ninguém sabe onde se meteu.

_ E o seu José não está fazendo nada?

_ O pobre homem está meio bobo de arrependimento, pois diz que gosta muito da esposa e dos filhos e que isso foi só um momento de fraqueza.

_ São coisas da vida dona Carla, logo passa.

_ Não é tão fácil assim _ respondeu ela.

Pedi licença dei as costas e me desfiz do assunto.

Naquele dia não saí de casa e de vez em quando ia até a janela só para ver o movimento da rua.

A rua em que morávamos não era tão extensa e dava para observar tudo o que acontecia em seu pequeno tajeto.

Parecia um formigueiro ninguém se continha em ficar dentro de casa.

Em todos os portões havia gente conversando.

Os mais íntimos do Sr. José tentavam se aproximar da casa dele, pois só assim seria satisfeita tamanha curiosidade.

Qualquer tentativa era em vão, pois o coitado do homem não teve coragem de dar as caras para a rua.

O dia foi passando e esse movimento virou rotina.

Por mais que tentassem ninguém conseguia mais informações sobre o fato.

A noite chegou e pela última vez fui até a janela. Já bem escuro ainda pude observar que a rua não tinha voltado ao normal.

Sentei no sofá, liguei a televisão, estava começando o jornal.

Fiquei por instantes com os olhos parados, fixo na parede branca da sala.

De repente fiz uma indagação a mim mesmo.

_ Por quê será que as pessoas têm sempre um momento em suas vidas que haverá de ser chamado, momento de fraqueza?

Senti um arrepio levantar os pelos do braço.

Então pensei.

Tomara que quando o meu momento de fraqueza chegar eu esteja bem forte!

Orlando Massuia
Enviado por Orlando Massuia em 16/08/2008
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