O Caminho do Infinito
Estava com minha esposa sentado no sofá em um domingo chuvoso assistindo futebol. No intervalo, passou um comercial de um garoto e um garota, ambos crianças e bonitinhos, se olhando e tomando um refrigerante. Imediatamente suspirei, minha esposa, Glória, me perguntou se estava me sentindo bem, disse que sim, e que só precisava pegar um pouco de ar e beber um copo d'água.
Moravamos em um apartamento, no décimo andar, fui a mini varanda que tinha e me lembrei de minha infância. Tinha treze anos, morava em uma chácara, junto com meus pais. Nossa casa ficava em uma mata de frente a uma estrada. Era filho único, meu maior entretenimento era assistir televisão e ler livros. Na verdade os livros eram o meu verdadeiro entretenimento. Lia de tudo, de William Shakespeare a Machado de Assis, de Homero a Franz Kafka.
Sempre cedo saia para ir a escola que ficava na cidadezinha mais próxima. Como já era grandinho e a escola não ficava muito longe, ia sempre sozinho. No segundo semestre, mudaram para a casa que ficava do outro lado da estrada uma familia. Eram três: Um homem, uma mulher e uma menina, ou seja, o pai, a mãe e a filha. E a filha
deles se chamava Sarah, e tinha quartoze anos de idade. Os pais dela também matricularam-na, na escola onde eu estudava. Não pude deixar de notar a sua beleza, era branca, tinhas cabelos ruivos, olhos azuis, um pouco maior que eu. Segunda feira, me levantei cedo, tomei café, vesti a roupa, peguei os materiais e fui a caminho da escola. Para
a minha grata surpresa, Sarah também tinha se sido matriculada no turno da manhã. Ela saiu de sua casa, poucos segundos depois de mim. Me vendo um pouco na frente, ela correu para me alcançar.
- Oi, somos vizinhos né?
- Sim... Meu nome é Edgar.
- Sarah, prazer.
- É, eu já sabia. Vi os meus pais dando boas vindas a vocês, ai o seus pais falaram o seu nome.
- Eu também já sabia o seu.
Eu estudava na sétima série, ela na oitava E essa rotina maravilhosa foi se repetindo. Acordavamos cedo, iamos juntos pela estrada vendo o lindo pôr-do-sol. Até que dois meses depois, enquanto iamos para a escola, rolou um clima especial e acabamos nos beijando. Foi maravilhoso, lindo, tudo de bom. Sarah era a garota mais legal do mundo, conversava os assuntos de homem, de mulher. Falavamos de moda, beleza, sobre a novela da tv, de filmes, livros, animais, natureza, os mistérios do Universo. Só que tem aquele ditado: ''Tudo que é bom, dura pouco''. Impressionante como tem ditados que valem, como este.
No final do ano, eles se mudaram. Era sábado, voltava da cidade com leite e pão, então minha mãe me disse: ''Ficou sabendo
né? O João e a familia vão mudar''. Eles iriam para outro estado. No último dia de aula, onde fomos só para confirmar que tinhamos
passado de ano (eles se mudavam no dia seguinte) nos aproveitamos para nos beijar e se despedir. Eu estava muito abatido, e
ela parecia mais tranquila. No dia então da mudança, poucos antes de partirem (Já era de tarde).
- Quem sabe, um dia agente não se encontra né?
- É - falei cabisbaixo.
- Ei, não fique assim não, você é o menino mais legal que eu já conheci.
- Ah, valeu.
Depois que eu falei ''valeu'' ela beijou os meus lábios.
- Vamos Sarah - gritou a mãe dela, Dona Martha.
- Já vou. Tchau.
- Tchau.
Ela se virou, se despediu de minha mãe e meu pai (Willian e Maria) e entrou no caminhão junto com o pai, a mãe e o tio, que
estava levando a mudança. Então veio o ronco do motor, e eles partiram. Fiquei vendo o Caminhão indo embora na estrada de pedra
cercada pelas lindas árvores.
Meu pai vendo que eu estava triste, veio tentar me consolar.
- Eu sei que você gostava dela. Mas fique tranquilo, você é um rapaz legal e inteligênte, logo você arranja outra namorada.
- É - disse triste, mas mais confortavel com as palavra de meu pai.
Pouco tempo depois nos mudamos.
- Bem, voltou o jogo. O Goiás não muda, nem o Cruzeiro!
- Tá, já estou indo.
Continuando, pouco tempo depois nos mudamos também. Fomos para a cidade. Tenho que admitir, namorei (depois de Sarah, só voltei a beijar outra garota depois dos 19 anos), fiquei com várias mulheres, e me casei com Glória. Mas nunca fiquei com nenhuma garota tão
bonita e legal como Sarah. Fico imaginando, será o que aconteu com ela? Será que ela foi feliz, será quem namorou com ela? Espero que a tenha tratado bem. No fundo fico até com um pouco de inveja de quem namorou ela, de quem fez amor com ela. Será que ela se casou? Será que ela mudou muito? (Pode até ter mudado, mas tenho certeza que ela continua linda)... Séra que ela já morreu? Não, não quero nem pensar nisso.
Tenho certeza leitor, que você já pode ter passado por isso. Pelo destino, ter sido separado de uma pessoa muito querida, e depois nunca mais ter tido noticias dela. É, mesmo depois de tantos anos de vida, de ter uma esposa maravilhosa, de ter filhos e netos (meu primeiro netinho tem um ano de vida, lindo ele) ainda penso em Sarah. Ai, por que na época não tinha Internet, Celular, Orkut, MSN, essa coisas... Mas não adianta ficar aqui lamentando. O que importa, é que enquanto eu viver, enquanto tiver consciencia, vou sempre lembrar daqueles dias, daquelas manhãs, daquelas caminhadas, conversando ''com a garota mais legal do mundo!''.
Onde quer que você esteja, te amo Sarah!