O Homem que vendia quadros

Era uma noite agradável, nem quente nem fria., daquela noites em que vale a pena reunir alguns amigos para uma boa conversa em uma mesa de bar.

E lá estavam cinco amigos reunidos, bebericando, apreciando um “tira-gosto”, jogando conversa fora. Nada comprometedor, vez ou outra falavam de negócios, do dia corrido, comentavam os fatos mais relevantes. Enfim, uma típica conversa de bar.

E neste clima descontraído seguiam os cinco, e muitas outras pessoas, todas muito alegres, risonhas, e digno de registro, o dono do bar estava mais risonho ainda.

Neste clima descontraído, circulava entre as mesas do bar o Sr. Ataíde, vendendo quadros de nenhuma valia. Era um homem de meia idade, simples, sem muito estudo mas baste eloqüente.

Aproximou-se muito educadamente dos cinco oferecendo seus quadros, e como nenhum deles tenha se interessado, agradeceu e já ia se retirando, quando um deles perguntou se valia a pena estar ali, naquela hora da noite vendendo quadros.

- É uma forma de sobreviver. Respondeu o homem

- Mas já esta tarde. Retrucou um dos amigos.

- Sabe como se chama isto meu amigo? Capitalismo. O capitalismo tem uma coisa boa, você depende só de você. Se você tem seu negócio, então você tem que trabalhar.

- É mas tem que relaxar, rebateu um outro.

- Este é o mal do nosso país, as pessoas conseguem alguma coisa e já querem se encostar. Os americanos não, eles têm e querem ter mais, por isto são o que são. O povo de país subdesenvolvido, se contenta com muito pouco.

- É verdade, concordou outro.

- Olha, vou contar uma história. Tinha um garçon que trabalhava naquele bar do outro lado da esquina, um dia ele saiu dali e com o dinheiro que ele recebeu, montou um bar pra ele em sociedade com o Mário. O Mário é um engenheiro dos melhores do país, só mexe com coisa grande, viaduto, estrada, ponte, todas essas coisas. Bastante inteligente. O rapaz se juntou com ele, mas não entendia nada das coisas, o Mário é quem ensina ele. E ele passa um tempão aprendendo, estudando.

- Tem que ser assim mesmo, concordaram todos em uníssono.

- Hoje ele tem um dos bares mais freqüentados da cidade, precisa ver, lá não vai qualquer um não. Lá vai deputado, vereador, só gente grã fina. Ele não tem estudo nenhum, o Mário organiza tudo e ele fica só atendendo e dando atenção aos clientes. Este rapaz ainda vai longe, sabe porque? Sabe trabalhar, trabalha muito, daí da certo.

- E o senhor? Perguntou o outro.

- Ah, eu estou aí vendendo meus quadros pra tirar algum, não dá pra ficar parado. Bom vou indo.

E lá se foi o Ataíde, vendendo seus quadros de pouca valia de mesa em mesa no bar.

Cavaleiro Marginal
Enviado por Cavaleiro Marginal em 14/08/2008
Reeditado em 16/08/2008
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